domingo, 28 de setembro de 2008

Gracias a la vida









fotos: cmi brasil (Centro de Midia Independente: www.midiaindependente.org)




Há algumas semanas atrás, conversei com uma mulher grávida e de olhar muito tristonho.
Neste dia, eu estava, como sempre, muito ocupada com a burocracia que enche a minha mesa de trabalho e que garante o meu salário no final do mês.
A mulher entrou na sala, a fim de me pedir alguma coisa, que eu já nem lembro mais o que era. E eu, mais por educação e por dever profissional do que por vontade própria, parei para ouvi-la. Confesso que queria mesmo era não ser interrompida no que eu estava fazendo naqueles processos de capa azul.
E, então, mais por simpatia do que por gentileza, perguntei de quantos meses era a gravidez.
- Cinco meses nas minhas contas e seis nas contas do médico.
- Mas, sua barriga ta tão pequena! É seu primeiro filho?
- É.
-Ah, que bom!
- É. Mas, o médico disse que ele tá com...não sei o nome...é aquele problema de não ter cérebro.
- E você, como está se sentindo?
- Me sentindo mal. O médico disse que ele não vai viver. Tenho que esperar os nove meses, se ele não morrer antes.
Subitamente, um nó cresceu na minha garganta, destes nós que nos apertam por até muitos dias depois.
Após cumprir fielmente as horas do meu dia que vendo para o governo federal, eu fui viver as minhas próprias horas. Neste dia, não fiz o caminho de sempre de volta para casa, por que sempre que tenho um nó, ou uma alegria, pego o caminho mais longo, de onde eu possa ver o mar.
Para minha infelicidade existem os semáforos nas ruas da cidade, que obrigam todo mundo, pedestres e motoristas, a parar... e a passar.
Justamente, neste dia de nó, uma menininha que não tinha mais que cinco anos, aproxima-se e, num gesto automático, beija o capô do carro, fazendo um tipo de malabaris com a sua pouca força de vida e com suas mãozinhas pequenas.
Uma menina de olhar tristonho.
E uma menina tão comum e tão numerosa nas sinaleiras desta Cidade.
Usando da gíria atual, uma menina que virou estatística.
Hoje, que é domingo, eu passei novamente por aquele caminho e por aquela sinaleira. Acontecia ali uma manifestação a favor da descriminalização do aborto, como parte das atividades do Dia Latino-americano pela legalização e descriminalização do aborto.
As manifestações ocorrem na América Latina e no Caribe desde 1990.
Eu, que amo as crianças (que o digam os meus anjinhos Gabi, Rafa e Ju);
Eu, que sempre me desconforto ao ver crianças em sinaleiras, ou servindo de ‘avião’ para o tráfico, ou com fome, ou sem nenhuma condição de sobrevivência;
Eu, que acho que toda mulher deve ter o controle de sua vida, de sua sexualidade, do seu corpo e da sua vontade;
Eu, que me comovo ao sentir a dor de outra mulher que espera um bebê anencéfalo, por talvez, nove meses para depois vê-lo morrer.
Sou a favor da descriminalização do aborto e subscrevo em apoio aos vinte e oito pontos, a seguir transcritos, conforme proposto pelo Movimento de Mulheres.
Gracias a la vida!
Obrigada a minha amiga Ana, assistente social de primeira linha, pela lembrança do ato público na Ondina.

28 MOTIVOS PARA LEGALIZAR O ABORTO NO BRASIL

1. Porque as mulheres devem ter o direito à vida.
2. Porque se trata de uma questão de exercício de autonomia e de liberdade do corpo feminino.
3. Porque são as mulheres que enfrentem os desconfortos que acompanham a gravidez e o parto e, portanto, as mulheres devem ter o direito de decidir sobre o que acontece em seus próprios corpos.
4. Porque nem toda gravidez é desejada e planejada.
5. Porque a interrupção da gravidez deve ser uma questão de foro íntimo e não caso de polícia.
6. Porque cada uma que toma esta difícil decisão deve ser apoiada e não condenada.
7. Porque o Estado brasileiro deve garantir e respeitar os direitos reprodutivos das mulheres.
8. Porque a mulher com uma gravidez indesejada fica exposta ao sofrimento e à solidão de decidir sobre a interrupção da gravidez.
9. Porque não existe suporte social diante dos conflitos que acompanham uma gravidez indesejada.
10. Porque não existe suporte social e econômico adequado para as mulheres criarem os filhos que trazem ao mundo.
11. Porque os métodos contraceptivos não são infalíveis.
12. Porque os serviços de saúde não se organizam de modo eficaz para garantir o atendimento das necessidades contraceptivas e, portanto, as mulheres não podem ser culpabilizadas pela oferta irregular dos métodos anticoncepcionais.
13. Porque muitas vezes o parceiro não permite que a mulher faça uso de contraceptivos e se recusa a usar camisinha.
14. Porque o parceiro quase sempre é ausente nas decisões sobre a gravidez, tendo a mulher que assumir sozinha a responsabilidade de decidir pelo aborto.
15. Porque a paternidade responsável ainda não faz parte da cultura brasileira.
16. Porque o aborto realizado em condições ilegais e inseguras é a quarta causa de mortalidade materna no país.
17. Porque em Salvador, local onde as desigualdades sociais são maiores, esta é a primeira causa de morte materna.
18. Porque a interrupção voluntária da gravidez não deve se tornar uma sentença de morte para as mulheres
19. Porque a morte de uma mulher devido a um aborto em condições inseguras desestrutura famílias e deixa crianças órfãs.
20. Porque não pode ser crime a opção de interromper a gravidez.
21. Porque a criminalização do aborto não reduz o número de abortos que acontecem.
22. Porque o crime prescrito para a mulher que aborta foi arbitrariamente definido em 1940, com uma realidade muito diferente da atual.
23. Porque o Estado brasileiro é laico e, portanto não pode legislar com base em valores religiosos.
24. Porque a legalização do aborto não implica em obrigatoriedade: as mulheres que não querem fazer aborto não serão obrigadas a fazê-lo.
25. Porque a ilegalidade e o abortamento em condições inseguras se traduzem em altos custos aos cofres públicos devido aos internamentos
26. Porque em todos os países nos quais o aborto foi legalizado, houve uma drástica queda nos índices de mortalidade materna.
27. Porque só mesmo as clínicas clandestinas de abortamento é que lucram com a ilegalidade
28. Porque a criminalização serve apenas para manter a moralidade patriarcal que utiliza a culpa e o castigo como instrumentos normativos (de controle sobre as mulheres).

Assina:
MOVIMENTO DE MULHERES DE SALVADOR






domingo, 14 de setembro de 2008

“O mar de volta, o mar mais uma vez, maré”.

Seu pensamento



Às vezes, pergunto a mim mesma por que gosto das coisas que gosto. Obviedades!
Gostar de Adriana Calcanhoto compõe uma destas obviedades.
A agudização de sua voz parece sopro em canutilho.
De tão fina, acho que desafina. Mas, não! É apenas uma voz fina que foge da obviedade.
O violão de Adriana Calcanhoto não comporta muitas dissonâncias e, ao contrário, ressoa notas leves em musicalizações de versos que transformam o sentimento da gente em plena obviedade.
Então, por isso, respondo a mim mesma por que gosto das óbvias coisas que gosto. E por que gostei do show Maré!
A última vez que vi Calcanhoto faz alguns anos, na Concha Acústica do TCA. Ela estava sozinha, com seu violão, à frente de 5.000 pessoas. E, qualquer uma (um) cantora (or) que diante de mim assim está, alcança, instantaneamente, o lugar de divindade.
E eu me dissolvo completamente!
E assim estava Calcanhoto matando-me de inveja e de prazer em ouvi-la.
O show de hoje foi, diferentemente, sofisticado, macio, aconchegante, bonito.
Junto com os músicos Alberto Continentino (baixo, guitarra, berimbau de boca, escaleta), Bruno Medina (teclados), Domenico Lancellotti (bateria, percussão, guitarra), Marcelo Costa (bateria e percussão) Adriana cantou, com seu estilo sério e inteligente, composições suas e de seus parceiros, como Waly Salomão.
Desfilou elegância e autenticidade através de um magnífico cenário marítimo assinado por Hélio Eichbauer, figurinos de Gilda Midani e uma fantástica iluminação de Coletivo Maré, com surreais néons e coloridos para os olhos de 1.500 pessoas.
O show é homônimo do cd Maré, seu oitavo disco e o segundo da trilogia, que o coloca na situação de liberdade de dialogar com vários estilos de composições e de autores. Um cd intermediário, segundo a própria artista.
Fui feliz ao ver o “Maré” e sou feliz quando Calcanhoto usa “Esquadros” para esquartejar as minhas obviedades. Que o mar venha de volta e mais uma vez!

Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida KahloCores!
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ah, Eu quero chegar antes prá sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus.
Eu ando pelo mundo divertindo gente, chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome.
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle.
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle.
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado.
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janelaQuem é ela?
Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle.
(Composicão de Adriana Calcanhoto, cd Público, ano 1999)

domingo, 7 de setembro de 2008

Música boa na cidade!




Os shows de Fafá Carvalho são garantia felicidade, não somente pelos arranjos primorosos e excelentes músicos, como também pela energia boa que Fafá nos transmite.
Fafá Carvalho, licenciada em Dança pela UFBA, mestra em Artes Cênicas pela mesma Universidade e professora de arte-educação tem uma longa carreira artística, atuando em peças teatrais, shows musicais e de dança. O resultado de tudo isso é uma perfomance completa!
Palavra de quem acompanhou a sua carreira, desde o início, no Balé Folclórico, como eu.
Neste show Fafá expressa sua identidade através de releituras de canções, nas quais prevalece o afro-baiano.
Além de tudo isso, Fafá Carvalho é para mim Fau, minha querida primona!
Estaremos lá, eu e a "família-trapo" toda, na primeira fila, orgulhosos, felizes e de olhos e ouvidos bem abertos.
Aos que puderem ir, que vão correndo também e não irão arrepender-se!





O que: Show Outras Formas de Brasil
Onde: Teatro Gamboa Nova
Dias: 14 e 21/09
Horário: 17h
Preço: R$5,00













sábado, 6 de setembro de 2008

Circunscrição Policial









Não sei por quanto tempo aquele corpo, que até então para mim, não era nem de homem nem de mulher, apenas um corpo negro estendido no chão, estava ali.
Hoje é um dia de sábado e eu acordo tarde.
Tomo meu café com pão.
Olho pela janela.
O Complexo Policial está sempre para a minha vista da janela e eu vejo quem chega para nele habitar.
Em sua maioria, e previsivelmente, os humanos homens negros.
Eles cantam uma vez pela manhã, uma vez ao meio dia e, mais uma vez, às seis horas da tarde: a hora da ave-maria.
E quem pode com os demônios espalhados pelo mundo ao meio-dia e às seis da tarde?
Ave-Maria!
Os presos em seu negreiro diário.
Ave-Maria!
Todas as quartas-feiras, logo de manhã cedo, quando saio para o meu também, embora cool negreiro diário, a fila já está formada na frente do Complexo.
E quem está na fila, mais uma vez e repetidamente, são elas, as humanas negras mulheres.
Mães, filhas, esposas, companheiras, amantes, comparsas.
As Ave-Marias!
Enfileiradas, esperam para ver seus homens, agora, semanalmente negros.
Hoje é um dia de sábado. Dia de fazer visitas e de ser visitada. Mas, não é um dia de visitas para os que estão no confinamento. Eles não têm visitas aos sábados, como parte da punição para os seus feitos, por que visitas aos sábados só para quem está do lado de cá, para os do bem, para os limpos e puros que nunca pecaram e rezam a Ave-Maria para aqueles do lado de lá.
Hoje é um dia de sábado e eu acordo tarde.
Tomo meu café com pão.
Olho pela janela.
Um corpo negro estendido no chão, e do lado de fora da delegacia, obviamente chama mais a minha atenção do que o café extra-forte que bebo.
Hoje é dia de bolo de chocolate e de lençol limpo com cheiro de alfazema.
E de flores brancas que aromatizam a casa onde mora a minha alma.
O corpo negro ainda está deitado no chão quente em frente da delegacia.
Levanta daí e sai. Ordena um policial.
Levanta daí e sai - manda um outro, armado com revólver. Vai rezar sua ave-maria fuleira para lá!
O corpo negro, magro, vestido de bermuda e camiseta, levanta. Mas, não sai.
Levanta e gesticula.
Sacode uma folha de papel que carrega na mão.
Vejo melhor. O corpo negro é de uma mulher, que em dia de sábado, quer entrar no Complexo, como se ali fosse também uma de suas casas. Mas, que ão é a sua casa, hoje.
Algum tempo passa. E o tempo esfria a minha outra xícara de café. Aliás, o que é que o tempo não esfria, heim?
A mulher consegue entregar a um policial a folha de papel. Ele, o policial, entra na delegacia, mas manda que ela fique do lado de fora.
Agora vejo bem melhor. Um homem negro sai do Complexo Policial.
Ela, que antes era para mim um corpo negro em frente da delegacia, como toda mulher, abraça este homem, quase nu e cambaleante.
E, como somente uma mulher sabe fazer, procura machucados na testa deste seu homem.
E eles saem de mãos-dadas.
No caminho há um grande tonel de lixo.
Os dois param para ver se há alguma coisa que sirva e reviram o lixo, afinal hoje é sábado, dia de flores brancas, lençol limpo, bolo de chocolate e visitas!
E seguem como encantados.
Eu vejo que a grande porta de ferro da delegacia está sempre engolindo os negros que descem dos camburões várias vezes pela manhã, ao meio dia e às seis horas da tarde: a hora da ave-maria.
Há algo de incomum, de absurdo ou de rotineiro nisto?
Os que descem e entram pela porta frontal da delegacia vão, rapidamente, cantar a mesma cartilha. Cantarão uma vez pela manhã, uma vez ao meio dia e uma vez, às seis horas da tarde, lamurias, como gritos de guerra ensaiados, traduzidos em frases que me angustiam e que se desarmonizam com o som dos sinos na hora da ave-maria.
A grande porta de ferro da delegacia, que traga sem cerimônia estes negros, quase sempre é somente uma porta de entrada.
Mas, para desventurados por desventuras, qual a diferença de entrar e sair?
É tudo igual!
Talvez não para aquele corpo negro de mulher, que, subvertendo, deita-se no chão quente de um dia de sábado, a fim de ser percebida pelos agentes policiais, em seus papéis de mantenedores da aparente normalidade.
Eu vou mudar-me daqui muito antes que esta delegacia, que aumenta o incômodo do meu negreiro diário, vá para outro lugar desta cidade de São Salvador da Bahia, onde, dizem, todo mundo é d’Oxum e, ao mesmo tempo, reza ave-marias.
E o tempo? O tempo que arrefeceu minha segunda xícara de café? Este tempo que a tudo desconfigura e amarela?
Há uma somente uma coisa que ele não pode esfriar: a felicidade de quem espera quando encontra quem estava esperando.
Como a felicidade daquela mulher negra desta minha manhã de sábado.
Ave-Maria! Nossa Senhora Negra Aparecida, mãe de deus e ... mulher!


Nota: O Complexo Policial dos Barris está localizado no centro de Salvador e abriga a 1ª. Delegacia de Polícia, a Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes e a Delegacia de Homicídios. A carceragem do Complexo Policial abriga de 250 a 300 presos e está quase 200% acima da sua capacidade. Várias rebeliões acontecem na 1ª.CP por causa da superlotação. Vale lembrar que é um Complexo Policial e não uma penitenciária ou complexo de detenção.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Canta, Waldick!

YouTube - Waldick Soriano - Paixao de Um Homem + Eu Nao Sou Cachorro N

“Eu não sou cachorro, não!” (Mas, já fui...um dia!)


Há muitas interpretações para o que se chama brega. A mais consensual é de que é um gênero musical popular, cuja denominação surgiu de modo pejorativo, relacionado ao que não era de bom tom e clean, consumido, sobretudo, pelas classes mais baixas da população.
Gosto da lenda de que a palavra brega é conseqüência do nome da Rua Manuel da Nóbrega, uma rua cheia de prostíbulos, em Salvador-BA. Dizem que a placa da Rua foi ficando desgastada e a sílaba NO, de Nóbrega, apagou-se. Então, as pessoas referiam-se às músicas que tocavam lá NO BREGA.
Foram várias as fases que o gênero passou, desde o seu surgimento, por volta de 1960, até a sua assimilação pela indústria fonográfica, nos anos 80, pela classe média e por estudos de intelectuais. Lembram-se que a Globo lançava em suas novelas as famosas duplas de sertanejo-brega?
Mas, para além da sua associação à cafonice e às barangas, a algo fora do estilo de quem tem um dito gosto refinado, o fato é que os cantores bregas sempre entupiram as casas de shows do Brasil inteiro.
Eu mesma admito nunca ter gostado muito das músicas bregas, por causa das suas melodias marcadas, harmonias simples, letras por demais românticas e melosas. Tudo muito tábua rasa, eu dizia. D-i-z-i-a...por que a gente se acha muita coisa, até passar por outras tantas, que nos transformam, a nós mesmos e a tudo que é sentimento que consideramos legítimo dentro da gente.
Pois é! Meu ouvido metido a ouvir o erudito da sonata Pathetique, de Beethoven, e seus similares, bem como os clássicos da mpb, rolou por terra, bonitinho, com direito aquele famigerado “ta vendo aí, nega!?”, quando da minha primeira dor-de-cotovelo há muitos e muitos anos atrás. Época em que tomar cuba-libre era algo elegante e da moda (aliás, por que ninguém pede mais num barzinho: uma cuba-libre, por favor?). Esta era a mesma época dos LP s-bolachões.
Então, fui redimida, resgatada, renovada, ressuscitada por um: “Eu não sou cachorro, não, pra viver tão humilhado. Eu não sou cachorro, não, pra viver tão desprezado”. Isso aí, repetido e repetido e tri-repetido...a gente termina tendo coragem de partir para outra, fazer andar a fila, botar um batom na boca ou fazer algo que mude o astral, ora bolas!
Recentemente, assisti ao documentário “Waldick, sempre no meu coração”, com direção assinada por Patrícia Pillar, sobre a vida do baiano Waldick Soriano, um dos reis do brega. Um filme sobre a história de mais um nordestino que foi tentar a vida em Sampa, e que vingou! Um homem que dizia as coisas do coração. Waldick, o Durango Kid sertanejo, faleceu ontem, aos 75 anos. Deixa uma obra de quase 700 composições.
Assim, de NO BREGA, à cuba-libre e à fossa de amor, eu lembrei que, um dia, eu já fui cachorro, sim!
Ai, ai...