sábado, 30 de agosto de 2008

Amores de rua

A casualidade é algo que me encanta, justamente por ser surpreendente. Os amores acontecem, quase sempre, na casualidade.
Lina é uma grande amiga minha. Repentinamente, ou pela conjunção dos astros, ela foi absorvida por sentimentos inesperados, tipo flecha de cupido. Paul tornou-se meu amigo por causa de Lina. Ambos foram capturados pelo mesmo anjo-bobo-cupido, que aliteram a qualquer um ser humano em pleno meio da rua. Lina vive no Brasil. Paul do outro lado do Atlântico Sul. Portanto, Lina escreve sempre para Paul as Cartas ao Atlântico. Em uma noite, de conversas e de Bohêmias, no que pese a Lei Seca, já lá pras tantas da madruga, horas em que nem a gente sabe mesmo o que está dizendo, fiz ( eu? ou foram as cervejas?)minha amiga Lina jurar que me mandaria algumas destas cartas-poemas. Eis a de número nove, por que amores acontecem, quase sempre, na casualidade. Alguns duram, outros não. Importa que aconteçam. Lina e Paul, ao que me parece, continuam indo...



CARTAS AO ATLANTICO
N.9
( Em 23/11/2007)

“Depois de ter você, para que servem as ruas?”



Amor da minha vida, eu estou aqui!
Escrevo no presente do indicativo, para dizer que eu estou aqui.
Estou aqui onde você me deixou.
Estou aqui no lugar em que você permanece em mim.
Estou aqui onde a saudade me revira e onde o desejo me inflama.
Onde a lembrança é imperativa e onde meus olhos nada fitam, além de mim mesma e do seu vulto em minha memória.
Presencialmente, estou aqui, amor, onde o seu corpo aqueceu o meu,
Onde a minha língua adoçou a sua boca,
Onde respondi instintivamente aos seus impulsos de prazer.
Este é, ao mesmo tempo, o lugar que me fortalece e me leva até onde você está.
O lugar que me faz erguida, entre o temor e a certeza.
O lugar que me põe sempre de pé, como uma guerreira e sua lança.
A guerreira alerta para ver o sol raiar!
Embora haja aqui em mim, e na guerreira, a mulher e a menina, o batom e o laço de fita, o salto e o não saber andar.
Há aqui, amor, a calmaria e o vendaval,
A santa e a louca, a que protege e a que se aninha.
O mar e o temporal.
Assim é que estou aqui, exatamente onde você me deixou,
No lugar em que você permanece em mim!
Não corro. Não fujo. Não olho para os lados.
E se estou entre o punhal e a parede, lanço-me sobre o punhal.
Busco a coragem de continuar aqui, onde estou!
Por que compreendo que de mesma substancia é feito o carvão e o diamante,
A ostra e a pérola,
O medo e a audácia.
Fixo, assim, o meu querer na liberdade de amar que você me traz,
Na felicidade de amar que você me traz!
Mesmo neste lugar fora do padrão e dentro da descontinuidade,
Entre o concreto e a alegoria, entre o envolvimento e o desvinculado,
Entre a sedução e o desejo.
É aí onde estamos nós!
No fluido e em cima da rocha.
E de repente, quando eu sereno meu sentimento, parece que tudo se clarifica.
Se eu amo você e você me ama,
No presente do indicativo.
Não precisamos de revisão, de lembretes, de buscas, de googles para saber,
Ou para conjugar o presente do indicativo.
Eu estou aqui, amor.
Recrie a emoção e o grito de gol!
Modele a alegria, harmonize a canção.
Devolva o peixe ao rio e estrela ao céu,
O pileque ao bêbado e os poderes ao super-homem.
As especiarias às Índias e Portugal ás caravelas.
Coloque o sal na comida e cubra a cama com o lençol,
A letra ao livro, a cortina à janela, a esperança à rua.
Cada coisa ou efeito em seu lugar
Para depois subverter,
Como aprendizes da vida e do amor.
Desnude o seu corpo na pele que cobre o meu.
Transforme o seu olhar em minha retina
E a minha retina em seu espelho.
Faça-me a sua amada, amado meu,
E a sua nobreza para os carinhos seus.
Por que eu estou aqui!
Estou aqui no lugar em que você permanece em mim!
Amor da minha vida, eu estou aqui!
Escrevo no presente do indicativo, para dizer que eu estou aqui.



segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Desde ontem que, baianamente, tem samba no céu!

Dorival Caymmi, Carmen Miranda e Assis Valente (Rádio Mayrink Veiga)


O Brasil está de luto. E as pessoas de bem!
Neste último fim de semana tudo já se disse sobre Dorival Caymmi. Imprensa, blogs, homenagens, textos, biografias, shows. Todos disseram ou dizem ou escrevem ou aplaudem ou choram ou cantam ou ouvem...Caymmi!
As vírgulas caymminianas perfeitamente colocadas, portuguesa, baiana e ritmicamente bem pausadas são, agora, um ponto final.


Por que quando tudo já foi dito sobre tudo e sobre alguém, sobra o que ainda há para sentir.


O cansaço da lida da vida obrigou João a se sentar.


Que seja “doce, morrer no mar! Nas ondas verdes do mar!”



♪ 30/04/1914 ♫ 16/08/2008