terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Brindemos a 2009, por que "vamos precisar de todo mundo"!
domingo, 21 de dezembro de 2008
Meu coração...desanda a bater desvairado...quando entra o verão(*)
Nova estação aqui, neste lado sul do mundo.
Nova esperança no lado direito do meu peito,
Que pulsa!
Como água.
Chuva e lágrima
São águas
Que...
Rápido e de repente,
Vêm e vão!
sábado, 20 de dezembro de 2008
Sábado, 17 h, dia 20 de dezembro: onde andarás?
Mulheres que abortam e a caça às bruxas.
Hoje, ao abrir minha caixa postal, li uma reportagem da Carta Capital, enviada por minha velha e boa amiga Ana Oliveira, assistente social e professora, pessoa altamente comprometida com sua atividade profissional.
Resolvi, mais uma vez, trazer à baila esta problemática, cujas conseqüências nefastas afetam, sobremaneira, mulheres negras, pardas, de baixa renda e com escolaridade reduzida.
O Estado criminaliza e culpabiliza estas mulheres.
Ainda temos uma longa batalha a travar a favor da autonomia em relação ao nosso corpo.
CUIDADO OU CADEIA?
Phydia de Athayde , 16/12/2008
Ninguém gosta, ninguém planeja. Ainda assim, todos os anos, cerca de 240 mil brasileiras são internadas nos hospitais do SUS em decorrência de abortos inseguros. Elas chegam com hemorragia, infecções e não raro são destratadas por médicos e enfermeiras. O aborto é crime no Brasil e, se isso não diminui as ocorrências, como mostram pesquisas no mundo todo, enche de medo, vergonha e fragilidade as mulheres que o praticam. Enquanto o Ministério da Saúde trabalha para que o assunto seja tratado como questão de saúde pública, a Câmara dos Deputados caminha para o lado oposto. Na terça-feira 9, aprovou a criação da CPI do Aborto para “investigar profundamente as denúncias e fazer valer a aplicação da lei, atinja a quem atingir”, conforme o pedido de abertura. Entre os atingidos estaria gente como a baiana Olívia (nome fictício), chefe de família, negra, de 39 anos e um filho de 5. Doméstica, estudou até o segundo grau. “Fiz o aborto quando tinha 29 anos. Decidi porque não tinha condições de assumir. Foi desesperador, eu tinha terminado um namoro de oito anos antes de saber da gravidez. Tomei inúmeros chás, achava que ia sangrar imediatamente, de raízes, de malmequer, gengibre, boldo, espinho-cheiroso. Passou uma semana, resolvi procurar o ex-namorado e ele providenciou os comprimidos, né? O Cytotec. Tive hemorragia, muita cólica e a dor não passava, minha patroa desconfiou, me colocou contra a parede e confessei. Ela me levou ao hospital e ajudou a me internar. Foi horrível, porque era véspera do Dia das Mães.” O depoimento está no dossiê inédito A Realidade do Aborto Inseguro na Bahia, organizado pelo Instituto Mulheres pela Atenção Integral à Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos (Imais), em parceira com as principais organizações que atuam pela legalização do aborto no País. O trabalho tem 60 páginas e revela as conseqüências do aborto clandestino em Salvador e Feira de Santana. Na capital baiana calcula-se que 72 mulheres percam a vida a cada 100 mil nascidos vivos, embora os números oficiais apontem 51 óbitos. Essa taxa de mortalidade materna é 7 vezes maior do que o mínimo aceitável pela Organização Mundial da Saúde (de 10 mortes a cada 100 mil nascidos vivos). O aborto é a principal causa isolada dos óbitos. Além disso, em Salvador, a cada 100 internações por parto, ocorrem 25 em decorrência do aborto. A proporção nacional é de 15. Além de histórias de quem sobreviveu ao aborto e de relatos de familiares de mulheres que morreram após o procedimento, o dossiê reúne dados do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, bem como pesquisas acadêmicas sobre mortalidade materna. Também realizou a visita a quatro maternidades com os índices mais altos de morbidade, e entrevistou profissionais de saúde e especialistas. O dossiê confirma algo que os movimentos de mulheres e o Ministério da Saúde lutam para tornar mais conhecido: o aborto é praticado por mulheres de todas as classes sociais, níveis de escolaridade, etnias e religiões. A diferença está nas conseqüências. Em Salvador, morrem em decorrência de aborto essencialmente as mulheres jovens, pardas e negras, com formação primária. As menos assistidas. No Brasil, o risco de morte por aborto é quase 3 vezes maior nas mulheres negras que nas mulheres brancas e o risco de morte por aborto é 4,5 vezes maior nas mulheres com menos de 4 anos de estudo quando comparados com aquelas com mais de 8 anos de estudo. Além de expor a realidade em números, o trabalho avalia o tratamento que mulheres em abortamento costumam receber. Outro trecho do depoimento de Olívia é igualmente representativo. “Eu estava na ante-sala pra fazer a curetagem. Botavam ali como se fosse um castigo. Fiquei o dia inteiro. Veio o médico, fez o toque, não falou nada. E vinham os estagiários, levantavam a roupa e enfiavam o dedo, sem dizer nada, vinha um, vinha outro, eu me sentia uma coisa... No domingo me transferiram pra sala de curetagem, junto com outra paciente. Eu me sentia totalmente insegura, me sentia no açougue. (...) Fiquei com muita cólica ainda, três dias, a menstruação parecia um rio jorrando e tive muito medo de morrer sozinha.” Na tentativa de amenizar o problema, em 2005 o Ministério da Saúde baixou uma norma técnica a determinar a humanização do atendimento nesses casos. “Se algo é tratado como crime, fica muito mais difícil enfrentar, embora qualquer pessoa devesse ser tratada humanamente em qualquer situação”, diz Lena Peres, do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do ministério. “Trabalhamos pela descriminalização do aborto. Até para podermos fiscalizar, pois não há como fiscalizar o que não existe.” A estimativa mais recente coloca entre 700 mil e 1 milhão o número de abortos realizados anualmente no País. À margem da lei e do sistema de saúde. A missão de lidar com algo condenado à marginalidade ganhou contornos surreais no episódio de Campo Grande (MS). Insuflados por uma reportagem veiculada pela afiliada da Rede Globo, a revelar a existência de uma clínica que praticava abortos na cidade, o promotor Paulo Cezar dos Passos, a delegada Regina Márcia Mota e o juiz Aluízio Pereira dos Santos travaram uma batalha sem precedentes contra quase 10 mil mulheres, todas acusadas de praticar aborto. Após a veiculação da reportagem, em abril de 2007, o Ministério Público denunciou as 9.896 mulheres, cujos prontuários médicos foram apreendidos na clínica. Em novembro, o juiz determinou o arquivamento de 7.698 fichas nas quais não havia “fortes indícios” de aborto ou o registro era mais antigo do que a prescrição do crime, que é de 8 anos. Após essa triagem, cerca de 1,5 mil mulheres estão sendo indiciadas por crime de aborto. Cento e cinqüenta já foram investigadas e, até o momento, perto de 50 foram convocadas e aceitaram um acordo que propõe a suspensão do processo em troca do cumprimento de condições, sendo o trabalho comunitário em creches e instituições carentes uma das opções. “Meu objetivo não é perseguir mulheres, mas não posso prevaricar”, argumenta Santos, de 45 anos, 11 como juiz. Ele se declara um católico que vai à igreja em batizados e casamentos. “Não sou tão ativo como disseram.” Santos considera-se injustiçado pelo teor das reportagens veiculadas sobre o caso, “um monte de absurdos”, e discorda das críticas que recebeu, de defensores dos direitos das mulheres, de que enviar acusadas de aborto para trabalhar em creches é uma forma de tortura psicológica. “Na minha visão, é uma oportunidade para a mulher que cometeu aborto ver como outras conseguem criar os filhos, apesar das dificuldades, e refletir. Jamais imporia uma situação humilhante”, sustenta. Ele credita todas as atitudes tomadas à letra fria da lei, e não esconde o cansaço com o tema. “No dia que o aborto deixar de ser crime, ótimo, menos perturbação na minha vida.” Se às mulheres foi dada a opção de prestar serviços comunitários, a proprietária da clínica, Neide Mota Machado, não escapará do julgamento pelo crime de provocar aborto com o consentimento da gestante. “No caso dela não há benefício por causa da reiteração do crime”, explica o juiz, que determinou a ida da acusada a júri popular. A defesa recorreu, e o processo ainda não terminou. O episódio ganhou contornos absurdos, como no caso da mulher que apresentou o filho à Justiça para provar que desistira do aborto, e espalhou na cidade um clima de caça às bruxas. Assim como o magistrado, o promotor Passos alega ter apenas cumprido a obrigação, embora reconheça alguns excessos. “Nós, o MP, a polícia, o Judiciário e a imprensa, jamais poderíamos ter exposto essas mulheres à curiosidade mórbida da população”, admite, embora discorde de outra crítica ao processo, a de que os prontuários médicos são invioláveis e não poderiam ser expostos. “O eventual sigilo médico não pode acobertar crimes.” Passos tem 40 anos, 17 de Ministério Público, diz ter restrições à descriminalização do aborto e considera emocional qualquer discussão a respeito. “O aborto é um problema social que ultrapassa em muito o campo do direito penal. A maioria das mulheres não faz porque quer, mas não posso me afastar do fato de que é um crime, está no Código Penal.” Apesar do rebuliço, é improvável que alguma das indiciadas termine na cadeia (nas prisões brasileiras não há presas por aborto). Mas a repercussão nacional reacendeu ânimos tanto dos que defendem a legalidade como dos que condenam o procedimento. “O caso de Mato Grosso do Sul é apenas a ponta de um iceberg. Mostra que há uma realidade que não pode ser deixada de lado. Temos de enfrentar o problema, independentemente de sermos contra ou a favor”, diz Peres, do Ministério da Saúde. A percepção de que é melhor enfrentar uma realidade do que ignorá-la provoca arrepios em quem é fundamentalmente contrário à prática. É o caso do deputado Luiz Bassuma (PT-BA), da Frente Parlamentar Contra o Abortamento. Mesmo diante dos números de mortalidade em razão do aborto na Bahia, ele não considera o problema caso de saúde pública. “Aborto é crime. Isso (a mortalidade) acontece porque o estado é muito populoso e as mulheres pobres não recebem a orientação devida. Antes de corrigir, é preciso prevenir a gravidez”, prega. Sobre a necessidade de dar melhor assistência à mulher que aborta, ergue o tom de voz: “Aí temos uma discordância frontal, por isso nunca vamos entrar num acordo. O Estado nunca poderá permitir que se mate uma vida”. Bassuma assinou o pedido da CPI do Aborto e pretende investigar o funcionamento de clínicas como a de Campo Grande e a venda de medicamentos abortivos, sendo o Cytotec (nome comercial do misoprostol, usado no tratamento de úlceras) o mais comum. “Sou contra a prisão da mulher que aborta, ela deve ter uma pena leve. Mas quem ganha dinheiro com essa indústria do crime deve ir para a cadeia”, diz. No entender de Bassuma, a mulher de classe social mais alta, para quem “o Estado não falhou”, nunca deveria abortar. Se o faz, comete crime ainda mais grave. “Claro que o ideal é a prevenção. No entanto, mesmo quando todos tiverem acesso aos métodos, ainda assim vai haver gravidez indesejada. Às vezes o parceiro discorda da prevenção e impõe sua vontade. Nenhuma mulher é louca de querer abortar. Se o faz é por conta de uma situação muito concreta”, defende Dulce Xavier, da ONG Católicas pelo Direito de Decidir. Ela defende que a interrupção da gravidez nunca deve ser tratada como método anticoncepcional, e concorda com Bassuma quanto à fragilidade das políticas públicas de planejamento familiar. Mas só. “Criminalizar a mulher é uma injustiça muito grande, porque todos os outros envolvidos não são sequer mencionados, como o parceiro que a abandona, o patrão que demite ou o Estado que não supre.” Nos últimos anos, no entender da ativista, a discussão sobre o aborto avançou o suficiente para acirrar forças tanto favoráveis como contrárias. Na Conferência Nacional de Política para as Mulheres, em 2004, a legalização do aborto foi considerada um tema de saúde reprodutiva, uma vitória para os movimentos de mulheres. Em 2005 criou-se uma Comissão Tripartite (com integrantes do Legislativo, Executivo e sociedade civil) para propor uma nova legislação para o Brasil. O trabalho resultou na proposta de descriminalização e legalização do aborto até doze semanas por qualquer motivo, até vinte semanas em caso de gravidez resultante de estupro e a qualquer momento diante de risco de morte para a mãe ou má-formação congênita do feto. Mesmo sem incorporar a proposta, um projeto de lei (1.135/91) que retirava do Código Penal o artigo que tipifica aborto como crime foi rejeitado em duas comissões, a última vez em maio deste ano, e aguarda votação de um recurso para ser levado ao plenário da Câmara. A pesquisa nacional recém-divulgada, encomendada pela Secretaria de Direitos Humanos, quis saber a opinião dos brasileiros sobre o fim da prisão para a mulher que aborta. Mais da metade, 54%, disseram ser contra, e quase um terço, 31%, a favor. Uma parcela significativa, 11%, mostrou indecisão, “nem um nem outro”, e 3% disseram não ter opinião a respeito. Um levantamento anterior, do Ibope/ Católicas pelo Direito de Decidir, apontou que 47% dos católicos eram contrários à prisão nesses casos. Autor do recurso ao PL, o deputado José Genoino (PT-SP) está pessimista. “Sinto que estamos em uma luta de resistência. Nos últimos vinte anos, recrudesceu o conservadorismo e aumentou o fundamentalismo religioso na Câmara”, diz. Ao contrário dos colegas que pediram a CPI do Aborto, Genoino é favorável à descriminalização e se baseia no que dizem análises técnicas sobre mortalidade materna. “A Câmara anda para trás. Todos os estudos mostram que a clandestinidade do aborto é a principal causa de mortalidade materna. Está provado que a melhor maneira de diminuir o aborto é orientar e dar assistência à saúde da mulher.” Uma pesquisa conduzida pela Organização Mundial da Saúde, em 2007, mostra que nos países onde o aborto é permitido por lei o número de procedimentos é menor. Em países da Europa Ocidental a incidência é de 12 abortos por mil mulheres. Na América Latina, 31 por mil mulheres (clique aqui e leia o quadro).“O farisaísmo cultural e religioso no Brasil acaba produzindo a humilhação da mulher de baixa renda. É deprimente. Aborto não é assunto de juiz, padre ou delegado. É uma decisão da mulher”, diz Genoino. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Pompeo de Mattos, sugere uma saída pragmática para tema tão espinhoso. Inspirado em uma sugestão do juiz de Campo Grande, o deputado apresentou um projeto de lei que reduz a pena máxima para quem aborta de três para dois anos. Isso reclassificaria o crime como de baixo potencial ofensivo e dispensaria o inquérito policial. “Em vez de ser investigada, a mulher apenas assinaria um termo circunstanciado de ocorrência. Não é a liberação do aborto, mas melhora a dignidade da mulher”, acredita Mattos. Ele diz que a idéia foi bem recebida e espera que o PL seja votado no primeiro semestre de 2009. Concomitante ao desenrolar da CPI do Aborto. “Essa proposta é complicadíssima, pois não toca no ponto principal. Esperamos que o aborto efetivamente deixe de ser crime”, insiste Dulce Xavier. Apesar de considerar a abertura da CPI um retrocesso, “autoritário e fundamentalista”, ela a vê como uma oportunidade de disseminar dados importantes sobre a realidade do aborto, como o dossiê sobre mortalidade materna em Salvador e Feira de Santana. Beatriz Galli, do Ipas, organização parceira na elaboração do dossiê, diz que a intenção é repetir o levantamento (já realizado no Recife e em Petrolina, com constatações semelhantes) em outros estados e, assim, subsidiar o debate no Legislativo. Ela resume as principais conclusões: “A ilegalidade não previne o aborto, os hospitais não estão preparados para tratar humanamente a mulher que aborta e, principalmente, as mortes em decorrência de aborto são totalmente evitáveis”. (Paulo Araújo/Ag.O Dia/AE)
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
"Resistindo na boca da noite um gosto de sol"(*)
(*) O título desta postagem "Resistindo na boca da noite um gosto de sol" é trecho da música Nada Será, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, por que eu sei que a lua é o sol que resiste na boca da noite e, assim, tudo será.)
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
É proibido passar por aqui!
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Colóquio África e Diáspora
O Colóquio foi aberto hoje, em Salvador, e as discussões prosseguem até dia 09/11, reunindo estudantes, ativistas, representantes do Movimento Negro e representates políticas do Brasil, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Estados Unidos, República Dominicana, Benin, Guiné, Gana, Haiti e África do Sul.
É, sem sobra de dúvidas, um espaço de articulação intercontinental de diálogos que revelem a mulher enquanto protagonista e parceira de projetos, e não apenas um objeto de assistencialismo, além de refazer histórias de vidas, trajetórias afro-descendentes. As redes de contato serão compartilhadas e alargadas através do compartilhamento de experiências.
O resultado das discussões e o encaminhamento das propostas de estratégia serão apresentadas em forma de publicação.
A promoção do Colóquio fica a cargo da União dos Negros pela Igualdade (UNEGRO), que celebra seus 20 anos de existência, em parceria com a União Brasileira de Mulheres (UBM) e a UNESCO.
Neste mesmo âmbito, o Brasil completa 120 anos de desinstitucionalização da escravatura.
Aqui está a programação completa.
Quinta-feira, dia 06 de novembro de 2008
18 h: Ato de Abertura com a presença de autoridades
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
"Também, olhem como vocês estão vestidos, olhem para o cabelo de vocês..."
Revoltante, triste, sem explicações, sem desculpas. Inafiançável!
Embora já noticiado em outros blogs, faço questão de reproduzir, com a devida autorização, a reportagem-denúncia que nosso colega Marcus Vinicius (obrigada, marquinhos!), fez circular numa das listas de discussão dos mestrandos e doutorandos do Programa de Pós Gradução em Estudos Étnicos e Africanos, do Centro de Estudos Afro-Orientais, da Universidade Federal da Bahia. Percebi, aliás, que nenhuma voz dignou-se a levantar sobre o assunto, talvez, por que ja estejamos acostumados, né! Mea culpa, tento redimir-me aqui.
Esta é a minha primeira “homenagem” ao mês da consciência negra.
E viva a minha Bahia, a nossa Roma Negra!
Eis fato, enfim.
SALVADOR: UMA CENA COTIDIANA
[1] Todo camburão tem um pouco de navio negreiro é música de Marcelo Yuka, um dos fundadores da banda O Rappa, e é a que eu escuto ao escrever esta postagem.
domingo, 2 de novembro de 2008
Tenho tido vontade de estar mais perto de Itamar Assumpção, já há algum tempo. Prestar um pouco mais atenção, entender seu estilo de compor e sua mistura de samba, funk e rock.
Vejo-me impedida por dois grandes motivos. O primeiro é que eu não baixo músicas da net. Prefiro ir às boas e velhas lojas, comprar o cd, conferir o encarte, a ficha musical e técnica, ver a arte final. Sou obsoleta. O problema é que não é fácil encontrar Assumpção na loja da esquina ou na loja mais adiante.
A outra questão é minha incompetência em entender o traçado musical característico de Assumpção, que compunha para o contra-baixo, com notas soltas. Depois é que vinha a linha melódica e a harmonia. Queria escutá-lo, e não somente ouvi-lo, compreendendo estas minúcias, em mínimo respeito que eu podia ter a sua música.
O swing de Itamar, paulistano, vanguardista, compositor, arranjador, auto-didata no violão, “artista maldito”, deveria ter tido o mesmo reconhecimento que teve Tim Maia, por exemplo. Não teve por que o Brasil não trata justamente seus artistas populares. Isso é certeza e todo mundo já sabe. E tão precocemente ele se foi, há cinco anos atrás, sem que eu tivesse a chance de ter visto, sequer, um show seu.
Certo também é que, nos momentos de “precisão”, bota pra tocar: Itamar Assumpção!
“Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre.
Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa, coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre.
(Milágrimas é música de Itamar Assumpção e Alice Ruiz, e é também analgésico).
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Azul-multicor no Porto da Barra (Auto-etnográficas)
Etnocêntrico.
Um Porto!
Da Barra.
Uma louca
Que procura
A cura.
Corre!
Para lá.
Um pôr-do-sol!
Coração tombado.
Confunde tudo.
Confunde-se no céu.
De cores
Mudado.
Uma brisa!
A descrença transmutada.
O agnóstico desafiado.
Impossível não se querer dizer isso.
Deste fim de tarde intenso.
Que invade.
Lava!
Cura!
E me entrega à noite.
Taciturna.
Fria.
Que cai solene sobre esta tarde desvalida.
Só peço não morrer de frio.
Ou de febre.
Mas que eu me deixe ir.
Com este fim de tarde.
Azul.
Multicor.
O Porto.
A Barra.
Em me deixando ir,
Anoiteça
Para amanhecer.
E de novo.
E novamente...
Este fim de tarde!
Que invade.
Salva.
Arde.
Eu.
Uma louca.
À procura
Da cura.
domingo, 19 de outubro de 2008
De quantos tiros precisamos para morrer?
Este sangue que é, ao mesmo tempo, impávido e amedrontador.
Mas, quem não tem um pouco de sangue e de pólvora nas mãos?
Mesmo subliminarmente ou pacificamente ou pacientemente.
Quem é o responsável pelo sangue vermelho atirado sobre nós?
Eu quero saber.
Esta semana a crônica policial teve muito que falar ou escrever.
E, nós, muito com o que nos sujar de sangue.
Três episódios ficaram em tela, repetidamente.
Quinta-feira, 16 de outubro de 2008. São Paulo. Polícia civil em greve em frente ao Palácio dos Bandeirantes. A reivindicação é por aumento salarial e incorporação de subsídios da função nos vencimentos. Policiais civis e policiais militares entram em violento confronto. Balas de gás de pimenta, gás lacrimogêneo, balas de borracha e tiros de verdade, resultam em 30 policiais civis feridos. O Sr. José Serra, que governa São Paulo na base da política coronelista, voz macia e atitudes truculentas, recusa-se a negociar e diz que a greve tem cunho político.
Mesma quinta-feira, 16 de outubro de 2008. Rio de Janeiro. O tenente-coronel José Roberto do Amaral Lourenço, diretor do maior presídio de segurança máxima da América Latina, o Bangu 3, dirige seu carro pela Avenida Brasil, considerada a mais importante via expressa da cidade, quando seu carro é metralhado por 60 tiros de fuzil. Seu corpo é atingindo por, pelo menos, trinta tiros. A suspeita é de que a ordem de matar foi dada por traficantes e de dentro do presídio. Roberto Lourenço havia transferido traficantes presos para celas solitárias.
Enquanto isso, novamente em São Paulo, um jovem de 22 anos, inconformado com o fim do namoro mantém sua ex-namorada e uma amiga, ambas de 15 anos, como reféns. O caso durou cerca de 100 horas, transtornou a vida de moradores que não puderam entrar em seus apartamentos, fechou estabelecimentos comercias, escolas, mobilizou a opinião pública e deslocou não sei quantos policiais do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais), durante cinco dias, ostensivamente, para a área. O desfecho trágico culminou com a invasão do cárcere pela GATE, Eloá gravemente ferida, e já agora em estado de morte cerebral, e sua amiga também baleada. O jovem foi detido e tudo leva a crer que as balas foram do seu revólver calibre 22.
Os três casos revelam o drama citadino e o caos em que estamos submersos.
O episódio do confronte entre policiais expõe a incompetência do governador do Estado mais importante do País em dialogar e resolver conflitos e reivindicações.
Já a morte do diretor de presídio estampa um estado de quase barbárie e uma ofensa à cidadania, revela a força do crime organizado, que faz ecoar seu grito de “tá dominado, tá tudo dominado”.
E, mesmo no caso do seqüestro, que a princípio teve um motivo passional, observamos a incapacidade técnica da Polícia Militar na proteção do indivíduo.
Por outro lado, tudo isso traz em mim a desconcertante pergunta: quantos tiros são necessários para nos matar?
Em quanto mar de sangue teremos que nadar, ainda?
Em que medida nossas mãos também estão sujas. Ou não?
Então, recorro desesperadamente a uma resposta sã, na qual eu possa embasar meus argumentos e minha angústia.
“Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me fez ouvir o primeiro tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina” [1].
E, ainda assim, não consigo responder a dúvida.
De quantos tiros precisamos para morrermos, se apenas um tiro, somente um, mata-nos.
[1] Trecho do texto “Mineirinho”, de Clarice Lispector (crônica de 1978, publicada no livro “Para não esquecer”, Editora Siciliano).
"Poeta, poetinha, camarada..."
A cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que eu vou te amar
E cada verso meu será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
sábado, 18 de outubro de 2008
De: uma preta/ Para: duas pretas
Numa apresentação formal diria que a autora é a carioca-baiana Fabiana de Lima Peixoto, pesquisadora da “excludente tradição literária brasileira dos manuais didáticos de literatura” e também professora de literatura e de língua portuguesa no Rio de Janeiro.
Mas, isto eu “pesquei” do seu lattes e do seu perfil público.
Quero mesmo é apresentar Fabiana, Fafazinha, Fafá ou Fá. Apelidos dados a mesma pessoa, minha amiga para tantas coisas, desde papos-cabeça a conversas esculachadas, desde pequenos entreveros a boas e longas gargalhadas ou sobre as opostas maneiras de ser de nós, baianos e cariocas. Desde congresso e falas na terra-berço do jazz a dureza dos sábados inteiramente dedicados, junto com Naná, às leituras indigestas dos maçudos textos in english (que sufoco, heim amiga, but arqueology and etnohistory of African Iron Age...never, never more!)
Fafá é “soulsista”.
É isso aí, irmã!
***
Na seqüência e aproveitando a oportunidade para divulgar coisas interessantes, também gostaria de fazer menção a um outro blog, que tive conhecimento através da minha curiosidade cibernética. Fui atraída pelo forte título: Pensamentos de uma preta africana. Gostei e vi que Nyikiwa tem personalidade ao escrever sobre assuntos do lado de lá, de Moçambique. Eis o link.
http://nyikiwa.blogspot.com/
****
Que tenhamos sempre o bom de dizer e escrever!
sábado, 11 de outubro de 2008
"Corra e olhe o céu, que o sol vem trazer bom dia!"
“Cartola não existiu, foi um sonho que a gente teve”.
A famosa frase de Nelson Sargento, compositor e um dos maiores conhecedores da obra de Cartola, nosso gênio sambista, ainda me comove. Aliás, Cartola é que me comove mesmo, de uma maneira profunda e intrépida.
Cartola, da Velha Guarda da escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Cartola do morro e do asfalto. Cartola de D. Zica e dos amores.
Cartola em sua sofrida vida e em sua genialidade poética.
De tantos amigos, entre eles Noel Rosa, de tantos abandonos, de tantas histórias contadas, só grava seu primeiro disco aos 65 anos, injustamente.
Cartola que, quando regente e diretor de harmonia da Mangueira, emocionou-se ao presenciar Assis Valente ser homenageado e chorar, demoradamente, na Mangueira, que toda e inteira, cantava um de seus sambas, lá pelos idos anos de 1935.
Cartola que sintetiza sua vida ao poetizar que “semente de amor sei que sou, desde nascença.”
Quem nasce em um domingo (11/10/1908) e morre em um domingo (30/11/1980), só pode ser muito especial ao Universo!
Completaria cem anos, se hoje estivesse vivo.
Cartola é meu mestre da sabedoria para os dias de chuva!
A benção, meu mestre!
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
"Benditas coisas que não sejam benditas"
"Benditas"
(Re)constrói o vivido. (Re)faz o não acontecido.
(Re)ga!
(Re)ajusta o pensamento. (Re)alça o cristalino.
(Re)aleza!
(Re)anima o vento. (Re)batiza a fé.
(Re)declara!
(Re)cria o bom.
(Re)inflama!
(Re)integra a parte. (Re)memora o avesso.
(Re)cai sobre mim!
(Re)dime as coisas, os lugares, os gostos, os verdes, os espaços, os amores... O amor!
E rouba tudo, antes de (re)estabelecer!
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Léo Kreti do Brasil, "querida", nem me chame para dançar, que eu não vou, não"!
O que não entendo são as coisas da política. E o dia foi nervoso por causa das coisas da política, também. Além do meu pensamento divido entre os meus assuntos de foro íntimo e o resultado das eleições, os meus dois olhos também giravam em direções contrárias. Um, aplicado no trabalho com as eleições e o outro no que acontecia nas ruas. Ou seja, alta pressão nas artérias.
Nervos à flor da pele na apuração das urnas e nos números embolados entre os candidatos Walter Pinheiro (PT), João Henrique (PMDB) e ACM Neto (DEM). O empate técnico entre os 30,97% de João Henrique e os 30,06% de Walter Pinheiro me aliviaram bastante, o que não somente me leva a sonhar com a vitória de Pinheiro no segundo turno eleitoral, mas que, sobretudo, consolida a 3ª perda sucessiva dos carlistas na Bahia (2004, 2006,2008).
Em suas análises, os cientistas políticos afirmam que esta eleição não foi considerada a partir das performances individuais dos candidatos, mas sim através do peso dos partidos políticos aos quais os candidatos estavam vinculados. Posso, assim, entender a vitória do PT e do PMDB, bases aliadas do governo Lula e a derrota do democrata ACM Neto.
Mas, estas análises devem ser aprofundadas pelos especialistas. Eu, confesso que gostei mesmo foi ver foi o abatimento de ACM Neto!
O que eu não consegui entender, em meus sentidos nervosos, foi Leo Kreti do Brasil, a “danada”, a “cretina”, como a quarta vereadora mais votada em Salvador, com quase 12.000 votos e minha candidata Creuza com pouco mais de 4.000 votos.
Leo Kreti é dançarina de pagode e tornou-se a primeira vereadora transexual eleita. Diz em entrevista que não escolheu, mas foi escolhida pelo partido DEM (o partido de ACM Neto), numa de suas convenções, para integrar o seu quadro de candidatos a vereadores. Por que seria, heim? As mesmas práticas populistas do “antigo” carlismo.
Não sou puritana e não é o fato de Leo Kreti ser transexual, nem mesmo por ela dançar lascivamente o seu pagode. Nem quero valorar as questões estética e comercial das danças e letras dos pagodes. O problemático é que Leo Kreti não tem história, nem luta política e não é referendada nem mesmo pelo Grupo Gay da Bahia, ONG que desenvolve importante papel na defesa dos direitos dos homossexuais.
Talvez eu esteja sendo até mesmo ingênua em querer um pouco de coerência no processo eleitoral e talvez eu devesse concordar com o antropólogo Roberto Albergaria, quando ele afirma: “Léozinha é emblemática no atual espírito do tempo: alegorizando um tipo de política e de sexo (a tal da desconstrução dos gêneros e das orientações sexuais heteronormais do passado) que não passam de uma alegre esculhambação!”.
É isso aí! Alegoria política e esculhambação!
Saindo um pouco da minha passionalidade por ver a derrota de minha candidata, a batalhadora companheira Creuza, e a vitória esplendorosa de Leo Kreti do Brasil, também gostaria de entender como nove vereadores não tiveram um voto sequer. Z-e-r-o voto. Nem os deles próprios. É um bom motivo para dar gargalhada.
E, como uma boa gargalhada espanta qualquer negatividade, vou aproveitar que meus nervos voltaram à normalidade, que meu pensamento não está divido e que meus dois olhos fitam somente o mesmo plano, para fazer meu mercado, tirar do atraso a leitura e a escrita, ligar para os amigos, pedir desculpas pelos esquecimentos e avisar a minha mãe que no domingo que vem eu “tô colada” no feijão dela.
Muito melhor do que me meter a entender o que, definitivamente, não entendo né?
Leo Kreti do Brasil, “querida”, continuo não entendendo os reveses da política, mas, nem me chame para dançar, que eu não vou, não!
"Polícia para quem precisa. Polícia para quem precisa de polícia"
Ficamos sem saber o que fazer e para onde ir, pois estávamos com as urnas eletrônicas, os disquetes com os dados de votação e todo o material que iria para a Junta Apuradora.
Não somente um, mas alguns policiais atiraram contra moradores e contra a jornalista.
Presenciamos uma quase tragédia.
Vejam a reportagem no link a seguir:
sábado, 4 de outubro de 2008
"Avisa ao formigueiro, vem aí tamanduá" (amanhã nós vamos votar?)
Bahia, Terra da Felicidade.
Bahia, Roma Negra.
Neste domingo, 05 de outubro, 9.153.703 de baianos, segundo dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgados através do Batimento Eleitoral 2008, vão às urnas.
Agora que o horário político veiculado pelos meios de comunicação encerrou, (e como eu gargalhei com o horário da propaganda eleitoral gratuita) é hora da campanha corpo a corpo e boca de urna.
Então, faço questão de publicizar o meu voto, na tentativa de convencer alguém que ainda estiver na indecisão.
Voto no Partido dos Trabalhadores, desde que atingi a maioridade eleitoral.
Lembro das primeiras eleições diretas para Presidente da República, após a ditadura militar, em 1989. Disputa entra Fernando Collor (argh... escrevo este nome e cuspo no chão) e Lula. Ô eleição em que eu sofri, em que fomos para a rua, em que militávamos e em que Lula ainda era “genuíno” (outra palavra execrada na pós-modernidade, hahaha) para nós. E fomos para rua pelo impeachmam de Collor.
No ano de 1994, foi a vez de Fernando Henrique Cardoso, meu conhecido e respeitado nos texots das aulas de sociologia, contra Lula. O mesmo embate se deu em 1998.
Finalmente, em 2002, Lula venceu Serra e eu voltei a acreditar que as coisas iriam melhorar, ainda que tivesse a consciência de que Lula não era mais aquele de 1989. Estava muito mais para o “Lulinha paz e amor”. Mas, tudo bem. Fomos todos para as ruas, assim mesmo e novamente, comemorar a possibilidade de um basta ao neoliberal que havíamos dado com a eleição de um trabalhador para Presidente do Brasil. Isto também representava uma inovação política e poderia sacudir a poeira na América Latina.
Nesta época fiz uma viagem por três países da América Latina e, no Uruguai, conversei com um senhor de muita idade, que me dizia ser Lula o possível aglutinador político em South América. Eu não podia deixar de orgulhar-me deste momento que o Brasil presenciava.
Amanhã votarei em Walter Pinheiro (PT) e em sua vice-prefeita, Lídice da Mata (PSB), sobretudo por suas propostas de governo, mas também por que faço parte do grupo que não quer ver ACM Neto no poder. O “menino”, o “grampinho” tem a idéia, dentre outras, de reduzir de dezoito para dez o número das Secretarias Municipais, inclusive com a extinção da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. "Né brinquedo, não!"
Walter Pinheiro e Lídice da Mata, nomes já consolidados na esquerda baiana, dispensam maiores apresentações. Portanto, quero, explicitamente, referendar a candidatura de Creuza Maria de Oliveira, 44, (PT) e compartilhar um pouco da sua luta.
Creuza é sindicalista, fundou o Sindicato das Domésticas, preside a Federação Nacional dos Trabalhadores Domésticos, é membro do Conselho Nacional da Promoção da Igualdade.
Sua história é semelhante ao do nosso presidente Lula. Aos dez anos, egressa do sertão e da roça, trabalha como doméstica em Santo Amaro, engrossando a fila do trabalho infantil. Sua primeira remuneração foi aos 15 anos. E, somente aos 20 anos consegue ter sua carteira de trabalho assinada, quando entra na luta pelos direitos dos trabalhadores domésticos.
Gostaria de ressaltar, que ainda hoje, 70% dos 500 mil dos domésticos não são respeitados em seus direitos de trabalhadores.
Vou votar em Creuza (13.612) por ela ser mulher, por ser negra, por sua trajetória política e de vida.
Vou votar em Pinheiro (13) por sua coerência e honestidade. Deputado Nota Dez.
Vou votar no Partido dos Trabalhadores por minha convicção partidária.
Vou votar contra o neo-carlismo (perdoe, meu deus, novamente escrever a má palavra. Cruz-credo, vai de retro!) que ACM Neto representa.
E vou ter esperança que um dia, dos quase 15.000.000 de baianos que somos, teremos um candidato ou uma candidata negra a prefeitura, ao governo estadual da Bahia, afinal, não somos a Roma Negra?
E, sem querer ofender a ninguém, relembro a música de Ivan Lins e Vitor Martins, interpretado pelo genial Tim Maia. “Avisa ao formigueiro, vem aí tamanduá”, embora que o termo "Nego" não esteja lá muito bem colocado, mas "formigueiro" e "tamanduá" estão perfeitos no contexto.
Vem aí tamanduá
http://www.youtube.com/watch?v=2yyFCM0_Z2I
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
O "Olhar" agora é B´andlha
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Outubro matizado
Nem crianças nas ruas em desfile pelas flores.
Nem caruru de Cosme e Damião.
Nem música inspiradora.
Nem livro que não fosse normativo e obrigatório
Nem vento na cara em estrada verde.
Nem mergulho no mar do pôr-do-sol do Porto da Barra.
Nenhuma palavra sequer sobre a exultação primaveril que eu tanto esperei!
Apenas a violeta da sala, que eu chamo carinhosamente de recoleta e que ouve as minhas mais secretas confissões, floriu como nunca antes e da orquídea, que já estava chateando-me de tão seca, brotou um talinho verde.
Tirante estas felizes recompensas da vida eu fui, completamente, engolida pelos dias e pelas noites, mesmo que com um sempre desejo do “... quando entrar setembro...” dentro de mim.
Agora chega o outubro. Um mês intermédio. Um mês sem homenagens por chegada de nova estação. Um mês daqueles feitos para ir se vivendo...
E com ele um gosto de ressaca, embora eu não tenha bebido de alegria a primavera.
Entrego, portanto, meu coração para que o outubro me alcance, como um contínuo do ingênuo colorido setembrino.
Afinal de contas, recoleta ainda vinga no canto da minha sala e compartilha comigo a suas duas últimas flores lilases. Embora que estas duas flores lilases interpelem mais do que matizem.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Gracias a la vida (2)
domingo, 28 de setembro de 2008
Gracias a la vida
Há algumas semanas atrás, conversei com uma mulher grávida e de olhar muito tristonho.
Neste dia, eu estava, como sempre, muito ocupada com a burocracia que enche a minha mesa de trabalho e que garante o meu salário no final do mês.
A mulher entrou na sala, a fim de me pedir alguma coisa, que eu já nem lembro mais o que era. E eu, mais por educação e por dever profissional do que por vontade própria, parei para ouvi-la. Confesso que queria mesmo era não ser interrompida no que eu estava fazendo naqueles processos de capa azul.
E, então, mais por simpatia do que por gentileza, perguntei de quantos meses era a gravidez.
- Cinco meses nas minhas contas e seis nas contas do médico.
- Mas, sua barriga ta tão pequena! É seu primeiro filho?
- É.
-Ah, que bom!
- É. Mas, o médico disse que ele tá com...não sei o nome...é aquele problema de não ter cérebro.
- E você, como está se sentindo?
- Me sentindo mal. O médico disse que ele não vai viver. Tenho que esperar os nove meses, se ele não morrer antes.
Subitamente, um nó cresceu na minha garganta, destes nós que nos apertam por até muitos dias depois.
Após cumprir fielmente as horas do meu dia que vendo para o governo federal, eu fui viver as minhas próprias horas. Neste dia, não fiz o caminho de sempre de volta para casa, por que sempre que tenho um nó, ou uma alegria, pego o caminho mais longo, de onde eu possa ver o mar.
Para minha infelicidade existem os semáforos nas ruas da cidade, que obrigam todo mundo, pedestres e motoristas, a parar... e a passar.
Justamente, neste dia de nó, uma menininha que não tinha mais que cinco anos, aproxima-se e, num gesto automático, beija o capô do carro, fazendo um tipo de malabaris com a sua pouca força de vida e com suas mãozinhas pequenas.
Uma menina de olhar tristonho.
E uma menina tão comum e tão numerosa nas sinaleiras desta Cidade.
Usando da gíria atual, uma menina que virou estatística.
Hoje, que é domingo, eu passei novamente por aquele caminho e por aquela sinaleira. Acontecia ali uma manifestação a favor da descriminalização do aborto, como parte das atividades do Dia Latino-americano pela legalização e descriminalização do aborto.
As manifestações ocorrem na América Latina e no Caribe desde 1990.
Eu, que amo as crianças (que o digam os meus anjinhos Gabi, Rafa e Ju);
Eu, que sempre me desconforto ao ver crianças em sinaleiras, ou servindo de ‘avião’ para o tráfico, ou com fome, ou sem nenhuma condição de sobrevivência;
Eu, que acho que toda mulher deve ter o controle de sua vida, de sua sexualidade, do seu corpo e da sua vontade;
Eu, que me comovo ao sentir a dor de outra mulher que espera um bebê anencéfalo, por talvez, nove meses para depois vê-lo morrer.
Sou a favor da descriminalização do aborto e subscrevo em apoio aos vinte e oito pontos, a seguir transcritos, conforme proposto pelo Movimento de Mulheres.
Gracias a la vida!
Obrigada a minha amiga Ana, assistente social de primeira linha, pela lembrança do ato público na Ondina.
28 MOTIVOS PARA LEGALIZAR O ABORTO NO BRASIL
1. Porque as mulheres devem ter o direito à vida.
2. Porque se trata de uma questão de exercício de autonomia e de liberdade do corpo feminino.
3. Porque são as mulheres que enfrentem os desconfortos que acompanham a gravidez e o parto e, portanto, as mulheres devem ter o direito de decidir sobre o que acontece em seus próprios corpos.
4. Porque nem toda gravidez é desejada e planejada.
5. Porque a interrupção da gravidez deve ser uma questão de foro íntimo e não caso de polícia.
6. Porque cada uma que toma esta difícil decisão deve ser apoiada e não condenada.
7. Porque o Estado brasileiro deve garantir e respeitar os direitos reprodutivos das mulheres.
8. Porque a mulher com uma gravidez indesejada fica exposta ao sofrimento e à solidão de decidir sobre a interrupção da gravidez.
9. Porque não existe suporte social diante dos conflitos que acompanham uma gravidez indesejada.
10. Porque não existe suporte social e econômico adequado para as mulheres criarem os filhos que trazem ao mundo.
11. Porque os métodos contraceptivos não são infalíveis.
12. Porque os serviços de saúde não se organizam de modo eficaz para garantir o atendimento das necessidades contraceptivas e, portanto, as mulheres não podem ser culpabilizadas pela oferta irregular dos métodos anticoncepcionais.
13. Porque muitas vezes o parceiro não permite que a mulher faça uso de contraceptivos e se recusa a usar camisinha.
14. Porque o parceiro quase sempre é ausente nas decisões sobre a gravidez, tendo a mulher que assumir sozinha a responsabilidade de decidir pelo aborto.
15. Porque a paternidade responsável ainda não faz parte da cultura brasileira.
16. Porque o aborto realizado em condições ilegais e inseguras é a quarta causa de mortalidade materna no país.
17. Porque em Salvador, local onde as desigualdades sociais são maiores, esta é a primeira causa de morte materna.
18. Porque a interrupção voluntária da gravidez não deve se tornar uma sentença de morte para as mulheres
19. Porque a morte de uma mulher devido a um aborto em condições inseguras desestrutura famílias e deixa crianças órfãs.
20. Porque não pode ser crime a opção de interromper a gravidez.
21. Porque a criminalização do aborto não reduz o número de abortos que acontecem.
22. Porque o crime prescrito para a mulher que aborta foi arbitrariamente definido em 1940, com uma realidade muito diferente da atual.
23. Porque o Estado brasileiro é laico e, portanto não pode legislar com base em valores religiosos.
24. Porque a legalização do aborto não implica em obrigatoriedade: as mulheres que não querem fazer aborto não serão obrigadas a fazê-lo.
25. Porque a ilegalidade e o abortamento em condições inseguras se traduzem em altos custos aos cofres públicos devido aos internamentos
26. Porque em todos os países nos quais o aborto foi legalizado, houve uma drástica queda nos índices de mortalidade materna.
27. Porque só mesmo as clínicas clandestinas de abortamento é que lucram com a ilegalidade
28. Porque a criminalização serve apenas para manter a moralidade patriarcal que utiliza a culpa e o castigo como instrumentos normativos (de controle sobre as mulheres).
Assina:
MOVIMENTO DE MULHERES DE SALVADOR
domingo, 14 de setembro de 2008
“O mar de volta, o mar mais uma vez, maré”.
Às vezes, pergunto a mim mesma por que gosto das coisas que gosto. Obviedades!
Gostar de Adriana Calcanhoto compõe uma destas obviedades.
A agudização de sua voz parece sopro em canutilho.
De tão fina, acho que desafina. Mas, não! É apenas uma voz fina que foge da obviedade.
O violão de Adriana Calcanhoto não comporta muitas dissonâncias e, ao contrário, ressoa notas leves em musicalizações de versos que transformam o sentimento da gente em plena obviedade.
Então, por isso, respondo a mim mesma por que gosto das óbvias coisas que gosto. E por que gostei do show Maré!
A última vez que vi Calcanhoto faz alguns anos, na Concha Acústica do TCA. Ela estava sozinha, com seu violão, à frente de 5.000 pessoas. E, qualquer uma (um) cantora (or) que diante de mim assim está, alcança, instantaneamente, o lugar de divindade.
E eu me dissolvo completamente!
E assim estava Calcanhoto matando-me de inveja e de prazer em ouvi-la.
O show de hoje foi, diferentemente, sofisticado, macio, aconchegante, bonito.
Junto com os músicos Alberto Continentino (baixo, guitarra, berimbau de boca, escaleta), Bruno Medina (teclados), Domenico Lancellotti (bateria, percussão, guitarra), Marcelo Costa (bateria e percussão) Adriana cantou, com seu estilo sério e inteligente, composições suas e de seus parceiros, como Waly Salomão.
O show é homônimo do cd Maré, seu oitavo disco e o segundo da trilogia, que o coloca na situação de liberdade de dialogar com vários estilos de composições e de autores. Um cd intermediário, segundo a própria artista.
Fui feliz ao ver o “Maré” e sou feliz quando Calcanhoto usa “Esquadros” para esquartejar as minhas obviedades. Que o mar venha de volta e mais uma vez!
Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome
(Composicão de Adriana Calcanhoto, cd Público, ano 1999)
domingo, 7 de setembro de 2008
Música boa na cidade!
Estaremos lá, eu e a "família-trapo" toda, na primeira fila, orgulhosos, felizes e de olhos e ouvidos bem abertos.