sexta-feira, 21 de novembro de 2008

É proibido passar por aqui!

Ao cair da tarde
Fui comprar pão.
Na porta, uma tabuleta.
É proibida a entrada de animais, dizia
Fiquei em dúvida.
Que animal seria?


Ao cair da tarde
Saí para tomar um ar
Na praça, uma faixa de isolamento dizia
Proibido o acesso de pessoas.
Fiquei na dúvida
Que pessoa seria?

Moral da história.
E da vida!
Sempre há uma porta
Onde a entrada é proibida.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Colóquio África e Diáspora


I Colóquio África e Diáspora: refletindo sobre o lugar da mulher negra na geopolítica e os desafios da luta contra a pobreza e o racismo. Evento que vem em resposta às demandas políticas, sociais e econômicas das mulheres da África e da Diáspora.
O Colóquio foi aberto hoje, em Salvador, e as discussões prosseguem até dia 09/11, reunindo estudantes, ativistas, representantes do Movimento Negro e representates políticas do Brasil, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Estados Unidos, República Dominicana, Benin, Guiné, Gana, Haiti e África do Sul.
É, sem sobra de dúvidas, um espaço de articulação intercontinental de diálogos que revelem a mulher enquanto protagonista e parceira de projetos, e não apenas um objeto de assistencialismo, além de refazer histórias de vidas, trajetórias afro-descendentes. As redes de contato serão compartilhadas e alargadas através do compartilhamento de experiências.
O resultado das discussões e o encaminhamento das propostas de estratégia serão apresentadas em forma de publicação.
A promoção do Colóquio fica a cargo da União dos Negros pela Igualdade (UNEGRO), que celebra seus 20 anos de existência, em parceria com a União Brasileira de Mulheres (UBM) e a UNESCO.
Neste mesmo âmbito, o Brasil completa 120 anos de desinstitucionalização da escravatura.
Aqui está a programação completa.

Quinta-feira, dia 06 de novembro de 2008
18 h: Ato de Abertura com a presença de autoridades
18:30 h : CONFERÊNCIA DE ABERTURA: O pós-abolição no Brasil e na América Latina e o seu significado para as populações africanas e afro-americanas.
Conferencistas:Epsy Campbel Barr (Costa Rica)
Edeltrudes Pires Neves - Cabo Verde.
Benedita da Silva - RJ
Coordenadora: Olívia Santana (BA/Brasil)
20:30 h: Atividade Cultural seguida de Coquetel
Sexta-feira, dia 07 de novembro 2008
9 h: Abertura do Salão Feminino de Arte e Cultura – Campo Grande
10 h: Análise dos Impactos das Conferências de Beijim e de Durban nas Políticas de Estado voltadas para as Mulheres Negras.
Conferencistas:Edna Maria Santos Roland (SP/Brasil)
Jeannine B. Scott (USA).
Coordenadora: Ubiraci Matildes (BA/Brasil)
14 h: A inserção da Mulher Negra na Produção Científica e Tecnológica e na agenda do Trabalho Decente.
Conferencistas:Sylviane Anna Diouf (Senegal / EUA)
Dolores Mohammed (Nigeria /Usa)
Fatou Sow Sarr (Senegal)
Maria Inês (Brasil)

Sábado, dia 08 de novembro de 2008
09:00h: Direitos Culturais, Sexuais e Reprodutivos: a luta contra a violência, o tráfico internacional e o desafio da autodeterminação das mulheres.
Conferencistas:Tetchena Bellange (Haiti / Canadá)
Jannaati Sow-Gbetro (França/Guiné)
Coordenadora: Estela Mares Cardoso (SC/Brasil)
Conferencistas:Olívia Santana (BA/Brasil)
Vinie Burrows-Harrison (EUA)
Marema Touré Thiam (Senegal)
Maria Ângela Ismael Manjate Janace (Moçambique)
Coordenadora: Márcia Virgens (BA/Brasil)

Domingo, dia 09 de novembro de 2008
09: h - Encaminhamentos do Colóquio O Lugar da Mulher Negra na Geopolítica e os Desafios da Luta Contra a pobreza e Discriminação.
11:00h - Ato de encerramento do evento: Mulheres Negras Contra o Racismo e a Pobreza.
Local: Praça 2 de Julho-Campo Grande




quarta-feira, 5 de novembro de 2008

"Também, olhem como vocês estão vestidos, olhem para o cabelo de vocês..."

Tudo começou quando a gente conversava/Naquela esquina alí/De frente àquela praça/Veio os homens/E nos pararam/Documento por favor/Então a gente apresentou/Mas eles não paravam/Qual é negão? qual é negão?O que que tá pegando?Qual é negão? qual é negão?/É mole de ver/Que em qualquer dura/O tempo passa mais lento pro negão/Quem segurava com força a chibata/Agora usa farda/Engatilha a macaca/Escolhe sempre o primeiroNegro pra passar na revista/Pra passar na revista/Todo camburão tem um pouco de navio negreiro/Todo camburão tem um pouco de navio negreiro[1]

Revoltante, triste, sem explicações, sem desculpas. Inafiançável!
Embora já noticiado em outros blogs, faço questão de reproduzir, com a devida autorização, a reportagem-denúncia que nosso colega Marcus Vinicius (obrigada, marquinhos!), fez circular numa das listas de discussão dos mestrandos e doutorandos do Programa de Pós Gradução em Estudos Étnicos e Africanos, do Centro de Estudos Afro-Orientais, da Universidade Federal da Bahia. Percebi, aliás, que nenhuma voz dignou-se a levantar sobre o assunto, talvez, por que ja estejamos acostumados, né! Mea culpa, tento redimir-me aqui.
Esta é a minha primeira “homenagem” ao mês da consciência negra.
E viva a minha Bahia, a nossa Roma Negra!
Eis fato, enfim.

SALVADOR: UMA CENA COTIDIANA
Taxista simula assalto e passageiros são agredidos por policiais
Sucessão de equívocos ocorreu após show no Pelourinho
Por: André Luís Santana - jornalista (DRT BA 2226) 71. 9106-1512
Um taxista, motivado pelo racismo, simula uma tentativa de assalto, acusando os passageiros - três jovens negros - e despertando a atenção de uma viatura da Polícia Civil de onde saem três policiais armados que, antes de qualquer esclarecimento, xingam e agridem os jovens, deixando, inclusive, um deles nú em via pública.
Na delegacia para onde foram levados, mais uma sucessão de humilhações e desrespeitos. O que era para ser um fim de festa tranqüilo para os amigos, Ítala Correia, Saturnino Silva e Henrique dos Santos, virou um pesadelo que tem custado sair da lembrança dos jovens.
Na madrugada de sábado para domingo, 26, após assistirem ao show da Banda Lampirônicos, no Centro Histórico de Salvador, os jovens, todos moradores do bairro da Boca do Rio, resolveram pegar um táxi, para garantir mais conforto e segurança na volta para casa. Ledo engano. Entraram no Corsa JRA 1505, do taxista César Augusto da Silva Purificação Santos, de 49 anos (Alvará A-1753), no Terreiro de Jesus. Próximo dali, após passar pelo Campo da Pólvora, o motorista iniciou uma crise de pânico, gritando e demonstrando medo.A princípio, os jovens tentaram acalmar o taxista, pois pensaram se tratar de algum repentino problema de saúde.
No início da Ladeira da Fonte Nova, o motorista, ao avistar uma viatura - um Eco Sport da Delegacia do Adolescente Infrator / DAI, parou o taxi e saiu gritando que estava sendo assaltado. "Até então, ainda não entendíamos o que estava ocorrendo. Primeiro pensamos que ele passava mal, estava tendo uma crise de epilepsia. Depois pensamos que o carro estava sendo assaltado por alguém que estava do lado de fora. Foi uma tensão terrível", explica com tristeza a produtora cultural Ítala Correia, de 21 anos.
Quando os jovens conseguiram sair do carro, já que o motorista havia travado todas as portas, já encontraram três policiais com armas em punho apontadas para eles. "A partir daí foi muito xingamento, humilhação. Revistaram minha amiga de forma abusiva, levantando a roupa dela e xingando-a de puta, vagabunda e outros palavrões. Tive que ficar nú em plena rua", relembra o garçom, Saturnino Silva, de 30 anos.
Na confusão para sair do carro, Ítala caiu e bateu o queixo no chão. Mesmo sangrando, a jovem continuou a ser agredida verbalmente pelos policiais, atendendo ao desespero do taxista que continuava afirmando que os jovens o assaltariam.
A jovem foi atendida no 5º Centro de Saúde, no Vale dos Barris, e levou cinco pontos no queixo, além de apresentar manchas roxas pelo corpo.
"Como eu já sai do carro correndo, pois achava que nós é que seríamos assaltados, os policias apontaram a arma para mim e chegaram a engatilhar. Tive que me jogar no chão. Por pouco não fui morto", conta o jogador de basquete Henrique dos Santos, de 28 anos, que havia participado, na manhã de sábado, do campeonato de Basquete de Rua, promovido pela Central Única das Favelas - CUFA.
Policiais da 1º Delegacia, no Complexo dos Barris, alegaram que a roupa do esportista (camisa e bermuda largas), foram as razões para despertar o medo no taxista."Também, olhem como vocês estão vestidos, olhem para o cabelo de vocês, era o que dizia um dos policiais que nos atenderam na Delegacia, justificando a ação do taxista", conta Henrique.
Os jovens acreditam que a ação policial, ainda na Ladeira da Fonte Nova, só não foi pior porque o tio de Ítala, o comerciante do Pelourinho, Wilson Santos, também morador da Boca do Rio, conduzia seu automóvel, junto com a esposa, e acompanhava o táxi que levava os jovens. Ao ver a movimentação policial, Wilson soltou do carro e se colocou na frente dos agentes, entre as armas e os jovens, tentando convencer os policiais do equívoco que ocorria.
No Boletim de Ocorrência, assinado pelo agente Júlio César dos Santos Batista, está descrita a calúnia e simulação de assalto, com a alegação do taxista de que "os jovens fizeram movimentos bruscos dentro do carro". Os amigos explicam que o próprio motorista perguntou se havia alguma porta aberta e todos foram verificar, respondendo negativamente. Depois disso, o condutor travou todas as portas e iniciou o desespero repentino.Os três jovens já deram queixas em todas as instâncias que tiveram acesso: como o Disk Racismo, a Gerência de Táxi da Prefeitura de Salvador - GETAXI e o Procon, ainda restando ir à Corregedoria da Polícia Militar e ao Ministério Público. Eles esperam que a ação preconceituosa do taxista e a abordagem abusiva dos policiais não fiquem impunes. "Somos jovens de bem, trabalhamos, não usávamos drogas, nem estávamos cometendo nenhum delito.Toda a suspeita e agressão foram motivadas pela nossa cor, nossos cabelos. É um absurdo que ainda tenhamos que conviver com atitudes como essa", revolta-se Ítala.
"Poderíamos estar todos mortos. Aí seria alegado que estávamos envolvidos com o tráfico de drogas. Já imagino as manchetes: Tentativa de assalto termina com morte de três assaltantes", assustasse Saturnino, referindo-se às práticas constantes no noticiário baiano, quando se trata do assassinado de jovens negros da periferia (fim).

[1] Todo camburão tem um pouco de navio negreiro é música de Marcelo Yuka, um dos fundadores da banda O Rappa, e é a que eu escuto ao escrever esta postagem.

domingo, 2 de novembro de 2008

Milágrimas

Tenho tido vontade de estar mais perto de Itamar Assumpção, já há algum tempo. Prestar um pouco mais atenção, entender seu estilo de compor e sua mistura de samba, funk e rock.
Vejo-me impedida por dois grandes motivos. O primeiro é que eu não baixo músicas da net. Prefiro ir às boas e velhas lojas, comprar o cd, conferir o encarte, a ficha musical e técnica, ver a arte final. Sou obsoleta. O problema é que não é fácil encontrar Assumpção na loja da esquina ou na loja mais adiante.
A outra questão é minha incompetência em entender o traçado musical característico de Assumpção, que compunha para o contra-baixo, com notas soltas. Depois é que vinha a linha melódica e a harmonia. Queria escutá-lo, e não somente ouvi-lo, compreendendo estas minúcias, em mínimo respeito que eu podia ter a sua música.
O swing de Itamar, paulistano, vanguardista, compositor, arranjador, auto-didata no violão, “artista maldito”, deveria ter tido o mesmo reconhecimento que teve Tim Maia, por exemplo. Não teve por que o Brasil não trata justamente seus artistas populares. Isso é certeza e todo mundo já sabe. E tão precocemente ele se foi, há cinco anos atrás, sem que eu tivesse a chance de ter visto, sequer, um show seu.
Certo também é que, nos momentos de “precisão”, bota pra tocar: Itamar Assumpção!
“Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre.
Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa, coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre.
(Milágrimas é música de Itamar Assumpção e Alice Ruiz, e é também analgésico).