quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Azul-multicor no Porto da Barra (Auto-etnográficas)

Mas, há, agora, um fim de tarde azul.
Etnocêntrico.
Um Porto!
Da Barra.
Uma louca
Que procura
A cura.
Corre!
Para lá.
Um pôr-do-sol!
Coração tombado.
Confunde tudo.
Confunde-se no céu.
De cores
Mudado.
Uma brisa!
Sem saber onde soprar.
A descrença transmutada.
O agnóstico desafiado.
Impossível não se querer dizer isso.
Deste fim de tarde intenso.
Que invade.
Lava!
Cura!
E me entrega à noite.
Taciturna.
Fria.
Que cai solene sobre esta tarde desvalida.
Só peço não morrer de frio.
Ou de febre.
Mas que eu me deixe ir.
E, que eu vá!
Com este fim de tarde.
Azul.
Multicor.
O Porto.
A Barra.
Em me deixando ir,
Anoiteça
Para amanhecer.
E de novo.
E novamente...
Este fim de tarde!
Que invade.
Salva.
Arde.
Eu.
Uma louca.
À procura
Da cura.
Uma sã.
À busca
Da loucura.






domingo, 19 de outubro de 2008

De quantos tiros precisamos para morrer?

Tenho medo de sujar-me de sangue ao abrir um jornal ou a abrir a porta da minha sala.
Este sangue que é, ao mesmo tempo, impávido e amedrontador.
Mas, quem não tem um pouco de sangue e de pólvora nas mãos?
Mesmo subliminarmente ou pacificamente ou pacientemente.
Quem é o responsável pelo sangue vermelho atirado sobre nós?
Eu quero saber.
Esta semana a crônica policial teve muito que falar ou escrever.
E, nós, muito com o que nos sujar de sangue.
Três episódios ficaram em tela, repetidamente.
Quinta-feira, 16 de outubro de 2008. São Paulo. Polícia civil em greve em frente ao Palácio dos Bandeirantes. A reivindicação é por aumento salarial e incorporação de subsídios da função nos vencimentos. Policiais civis e policiais militares entram em violento confronto. Balas de gás de pimenta, gás lacrimogêneo, balas de borracha e tiros de verdade, resultam em 30 policiais civis feridos. O Sr. José Serra, que governa São Paulo na base da política coronelista, voz macia e atitudes truculentas, recusa-se a negociar e diz que a greve tem cunho político.
Mesma quinta-feira, 16 de outubro de 2008. Rio de Janeiro. O tenente-coronel José Roberto do Amaral Lourenço, diretor do maior presídio de segurança máxima da América Latina, o Bangu 3, dirige seu carro pela Avenida Brasil, considerada a mais importante via expressa da cidade, quando seu carro é metralhado por 60 tiros de fuzil. Seu corpo é atingindo por, pelo menos, trinta tiros. A suspeita é de que a ordem de matar foi dada por traficantes e de dentro do presídio. Roberto Lourenço havia transferido traficantes presos para celas solitárias.
Enquanto isso, novamente em São Paulo, um jovem de 22 anos, inconformado com o fim do namoro mantém sua ex-namorada e uma amiga, ambas de 15 anos, como reféns. O caso durou cerca de 100 horas, transtornou a vida de moradores que não puderam entrar em seus apartamentos, fechou estabelecimentos comercias, escolas, mobilizou a opinião pública e deslocou não sei quantos policiais do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais), durante cinco dias, ostensivamente, para a área. O desfecho trágico culminou com a invasão do cárcere pela GATE, Eloá gravemente ferida, e já agora em estado de morte cerebral, e sua amiga também baleada. O jovem foi detido e tudo leva a crer que as balas foram do seu revólver calibre 22.
Os três casos revelam o drama citadino e o caos em que estamos submersos.
O episódio do confronte entre policiais expõe a incompetência do governador do Estado mais importante do País em dialogar e resolver conflitos e reivindicações.
Já a morte do diretor de presídio estampa um estado de quase barbárie e uma ofensa à cidadania, revela a força do crime organizado, que faz ecoar seu grito de “tá dominado, tá tudo dominado”.
E, mesmo no caso do seqüestro, que a princípio teve um motivo passional, observamos a incapacidade técnica da Polícia Militar na proteção do indivíduo.
Por outro lado, tudo isso traz em mim a desconcertante pergunta: quantos tiros são necessários para nos matar?
Em quanto mar de sangue teremos que nadar, ainda?
Em que medida nossas mãos também estão sujas. Ou não?
Então, recorro desesperadamente a uma resposta sã, na qual eu possa embasar meus argumentos e minha angústia.
“Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me fez ouvir o primeiro tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina” [1].
E, ainda assim, não consigo responder a dúvida.
De quantos tiros precisamos para morrermos, se apenas um tiro, somente um, mata-nos.


[1] Trecho do texto “Mineirinho”, de Clarice Lispector (crônica de 1978, publicada no livro “Para não esquecer”, Editora Siciliano).

"Poeta, poetinha, camarada..."

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
A cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que eu vou te amar
E cada verso meu será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
(* Eu sei que vou te amar é composição de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Hoje, Vinicius completaria 95 anos de poesia e de vida.)

sábado, 18 de outubro de 2008

De: uma preta/ Para: duas pretas

Finalmente, e com felicidade, posso fazer menção ao recente blog que ganha espaço pelo cyber http://brsoulsista.blogspot.com/
Numa apresentação formal diria que a autora é a carioca-baiana Fabiana de Lima Peixoto, pesquisadora da “excludente tradição literária brasileira dos manuais didáticos de literatura” e também professora de literatura e de língua portuguesa no Rio de Janeiro.
Mas, isto eu “pesquei” do seu lattes e do seu perfil público.
Quero mesmo é apresentar Fabiana, Fafazinha, Fafá ou Fá. Apelidos dados a mesma pessoa, minha amiga para tantas coisas, desde papos-cabeça a conversas esculachadas, desde pequenos entreveros a boas e longas gargalhadas ou sobre as opostas maneiras de ser de nós, baianos e cariocas. Desde congresso e falas na terra-berço do jazz a dureza dos sábados inteiramente dedicados, junto com Naná, às leituras indigestas dos maçudos textos in english (que sufoco, heim amiga, but arqueology and etnohistory of African Iron Age...never, never more!)
Fafá é uma preta boa de briga, posicionada politicamente, gosta de manejar as palavras na primeira pessoa e é dona de um grande coração.
Fafá é “soulsista”.
É isso aí, irmã!
***
Na seqüência e aproveitando a oportunidade para divulgar coisas interessantes, também gostaria de fazer menção a um outro blog, que tive conhecimento através da minha curiosidade cibernética. Fui atraída pelo forte título: Pensamentos de uma preta africana. Gostei e vi que Nyikiwa tem personalidade ao escrever sobre assuntos do lado de lá, de Moçambique. Eis o link.
http://nyikiwa.blogspot.com/
****
E então, aqui estou eu, uma também preta, a saudar estas duas outras pretas.
Que tenhamos sempre o bom de dizer e escrever!

sábado, 11 de outubro de 2008

"Corra e olhe o céu, que o sol vem trazer bom dia!"


“Cartola não existiu, foi um sonho que a gente teve”.
A famosa frase de Nelson Sargento, compositor e um dos maiores conhecedores da obra de Cartola, nosso gênio sambista, ainda me comove. Aliás, Cartola é que me comove mesmo, de uma maneira profunda e intrépida.
Cartola, da Velha Guarda da escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Cartola do morro e do asfalto. Cartola de D. Zica e dos amores.
Cartola em sua sofrida vida e em sua genialidade poética.
De tantos amigos, entre eles Noel Rosa, de tantos abandonos, de tantas histórias contadas, só grava seu primeiro disco aos 65 anos, injustamente.
Cartola que, quando regente e diretor de harmonia da Mangueira, emocionou-se ao presenciar Assis Valente ser homenageado e chorar, demoradamente, na Mangueira, que toda e inteira, cantava um de seus sambas, lá pelos idos anos de 1935.
Cartola que sintetiza sua vida ao poetizar que “semente de amor sei que sou, desde nascença.”
Quem nasce em um domingo (11/10/1908) e morre em um domingo (30/11/1980), só pode ser muito especial ao Universo!
Completaria cem anos, se hoje estivesse vivo.
Cartola é meu mestre da sabedoria para os dias de chuva!
A benção, meu mestre!


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"Benditas coisas que não sejam benditas"




"Benditas"
Esta música (re)stabelece.
(Re)constrói o vivido. (Re)faz o não acontecido.
(Re)abilita o que há.
(Re)absorve o sentimento. (Re)age ao tempo.
(Re)admite a ilusão. (Re)ge a vontade.
(Re)ga!
(Re)ajusta o pensamento. (Re)alça o cristalino.
(Re)aliza o desejo.
(Re)aleza!
(Re)anima o vento. (Re)batiza a fé.
(Re)benta o caminho. (Re)boa pelos ares.
(Re)declara!
(Re)cria o bom.
(Re)captura-me. (Re)cepta-me a felicidade.
(Re)imprime o desejo.
(Re)inflama!
(Re)integra a parte. (Re)memora o avesso.
(Re)sfolega. Re(une).
(Re)cai sobre mim!
(Re)dime as coisas, os lugares, os gostos, os verdes, os espaços, os amores... O amor!
E rouba tudo, antes de (re)estabelecer!
“BENDITAS AS COISAS QUE NÃO SEI
OS LUGARES ONDE NÃO FUI
OS GOSTOS QUE NÃO PROVEI
MEUS VERDES AINDA NÃO MADUROS
OS ESPAÇOS QUE AINDA PROCURO
OS AMORES QUE NUNCA ENCONTREI
BENDITAS AS COISAS QUE NÃO SEJAM BENDITAS
A VIDA É CURTA,
MAS ENQUANTO DURAR
POSSO, DURANTE UM MINUTO OU MAIS,
TE BEIJAR PRA SEMPRE
O AMOR NÃO MENTE,
NÃO MENTE JAMAIS
E DESCONHECE NO RELÓGIO O VELHO FUTURO
O TEMPO ESCORRE NUM PISCAR DE OLHOS
E DURA MUITO ALÉM DOS NOSSOS SONHOS MAIS PUROS
BOM É NÃO SABER O QUANTO A VIDA DURA
OU SE ESTAREI AQUI NA PRIMAVERA FUTURA
POSSO BRINCAR DE ETERNIDADE AGORA
SEM CULPA NENHUMA
BENDITAS COISAS QUE NÃO SEI
OS LUGARES ONDE NÃO FUI
OS GOSTOS QUE NÃO PROVEI
MEUS VERDES AINDA NÃO MADUROS
OS ESPAÇOS QUE AINDA PROCURO
NOS AMORES QUE NUNCA ENCONTREI
BENDITAS COISAS QUE NÃO SEJAM BENDITAS”
(* Benditas é música de Martinália e Zélia Duncan)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Léo Kreti do Brasil, "querida", nem me chame para dançar, que eu não vou, não"!

Ontem foi um dia nervoso. Meu pensamento dividiu-se entre muitas coisas. O dia de sol de domingo e a praia que eu não iria, o almoço de minha mãe que eu não provaria, a pilha de livros e as leituras atrasadas, os capítulos que tenho para começar e que não escrevo, a culpa por esquecer o aniversário de uma das minhas grandes amigas, a vontade de rever amigos que nunca mais encontrei, a geladeira vazia mandando que eu fosse fazer o meu mercado. Eu entendo e me desculpo por todas estas coisas não feitas.
O que não entendo são as coisas da política. E o dia foi nervoso por causa das coisas da política, também. Além do meu pensamento divido entre os meus assuntos de foro íntimo e o resultado das eleições, os meus dois olhos também giravam em direções contrárias. Um, aplicado no trabalho com as eleições e o outro no que acontecia nas ruas. Ou seja, alta pressão nas artérias.
Nervos à flor da pele na apuração das urnas e nos números embolados entre os candidatos Walter Pinheiro (PT), João Henrique (PMDB) e ACM Neto (DEM). O empate técnico entre os 30,97% de João Henrique e os 30,06% de Walter Pinheiro me aliviaram bastante, o que não somente me leva a sonhar com a vitória de Pinheiro no segundo turno eleitoral, mas que, sobretudo, consolida a 3ª perda sucessiva dos carlistas na Bahia (2004, 2006,2008).
Em suas análises, os cientistas políticos afirmam que esta eleição não foi considerada a partir das performances individuais dos candidatos, mas sim através do peso dos partidos políticos aos quais os candidatos estavam vinculados. Posso, assim, entender a vitória do PT e do PMDB, bases aliadas do governo Lula e a derrota do democrata ACM Neto.
Mas, estas análises devem ser aprofundadas pelos especialistas. Eu, confesso que gostei mesmo foi ver foi o abatimento de ACM Neto!
O que eu não consegui entender, em meus sentidos nervosos, foi Leo Kreti do Brasil, a “danada”, a “cretina”, como a quarta vereadora mais votada em Salvador, com quase 12.000 votos e minha candidata Creuza com pouco mais de 4.000 votos.
Leo Kreti é dançarina de pagode e tornou-se a primeira vereadora transexual eleita. Diz em entrevista que não escolheu, mas foi escolhida pelo partido DEM (o partido de ACM Neto), numa de suas convenções, para integrar o seu quadro de candidatos a vereadores. Por que seria, heim? As mesmas práticas populistas do “antigo” carlismo.
Não sou puritana e não é o fato de Leo Kreti ser transexual, nem mesmo por ela dançar lascivamente o seu pagode. Nem quero valorar as questões estética e comercial das danças e letras dos pagodes. O problemático é que Leo Kreti não tem história, nem luta política e não é referendada nem mesmo pelo Grupo Gay da Bahia, ONG que desenvolve importante papel na defesa dos direitos dos homossexuais.
Como explicar, então, a expressividade dos 12.000 votos?
Talvez eu esteja sendo até mesmo ingênua em querer um pouco de coerência no processo eleitoral e talvez eu devesse concordar com o antropólogo Roberto Albergaria, quando ele afirma: “Léozinha é emblemática no atual espírito do tempo: alegorizando um tipo de política e de sexo (a tal da desconstrução dos gêneros e das orientações sexuais heteronormais do passado) que não passam de uma alegre esculhambação!”.
É isso aí! Alegoria política e esculhambação!
Saindo um pouco da minha passionalidade por ver a derrota de minha candidata, a batalhadora companheira Creuza, e a vitória esplendorosa de Leo Kreti do Brasil, também gostaria de entender como nove vereadores não tiveram um voto sequer. Z-e-r-o voto. Nem os deles próprios. É um bom motivo para dar gargalhada.
E, como uma boa gargalhada espanta qualquer negatividade, vou aproveitar que meus nervos voltaram à normalidade, que meu pensamento não está divido e que meus dois olhos fitam somente o mesmo plano, para fazer meu mercado, tirar do atraso a leitura e a escrita, ligar para os amigos, pedir desculpas pelos esquecimentos e avisar a minha mãe que no domingo que vem eu “tô colada” no feijão dela.
Muito melhor do que me meter a entender o que, definitivamente, não entendo né?
Leo Kreti do Brasil, “querida”, continuo não entendendo os reveses da política, mas, nem me chame para dançar, que eu não vou, não!

"Polícia para quem precisa. Polícia para quem precisa de polícia"

Quando encerrávamos os trabalhos eleitorais na Escola Cid Passos, localizada no bairro de Coutos, subúrbio ferroviário de Salvador, e já comemorando o espírito tranqüilo da votação, ouvimos um estampido. Depois mais um tiro. Depois, uma rajada de tiros. As pessoas da comunidade, incluindo crianças e mães com crianças de colo, corriam.
Ficamos sem saber o que fazer e para onde ir, pois estávamos com as urnas eletrônicas, os disquetes com os dados de votação e todo o material que iria para a Junta Apuradora.
Não somente um, mas alguns policiais atiraram contra moradores e contra a jornalista.
Presenciamos uma quase tragédia.
Vejam a reportagem no link a seguir:

sábado, 4 de outubro de 2008

"Avisa ao formigueiro, vem aí tamanduá" (amanhã nós vamos votar?)







Bahia, Capital da Alegria.
Bahia, Terra da Felicidade.
Bahia, Roma Negra.
Neste domingo, 05 de outubro, 9.153.703 de baianos, segundo dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgados através do Batimento Eleitoral 2008, vão às urnas.
Agora que o horário político veiculado pelos meios de comunicação encerrou, (e como eu gargalhei com o horário da propaganda eleitoral gratuita) é hora da campanha corpo a corpo e boca de urna.
Então, faço questão de publicizar o meu voto, na tentativa de convencer alguém que ainda estiver na indecisão.
Voto no Partido dos Trabalhadores, desde que atingi a maioridade eleitoral.
Lembro das primeiras eleições diretas para Presidente da República, após a ditadura militar, em 1989. Disputa entra Fernando Collor (argh... escrevo este nome e cuspo no chão) e Lula. Ô eleição em que eu sofri, em que fomos para a rua, em que militávamos e em que Lula ainda era “genuíno” (outra palavra execrada na pós-modernidade, hahaha) para nós. E fomos para rua pelo impeachmam de Collor.
No ano de 1994, foi a vez de Fernando Henrique Cardoso, meu conhecido e respeitado nos texots das aulas de sociologia, contra Lula. O mesmo embate se deu em 1998.
Finalmente, em 2002, Lula venceu Serra e eu voltei a acreditar que as coisas iriam melhorar, ainda que tivesse a consciência de que Lula não era mais aquele de 1989. Estava muito mais para o “Lulinha paz e amor”. Mas, tudo bem. Fomos todos para as ruas, assim mesmo e novamente, comemorar a possibilidade de um basta ao neoliberal que havíamos dado com a eleição de um trabalhador para Presidente do Brasil. Isto também representava uma inovação política e poderia sacudir a poeira na América Latina.
Nesta época fiz uma viagem por três países da América Latina e, no Uruguai, conversei com um senhor de muita idade, que me dizia ser Lula o possível aglutinador político em South América. Eu não podia deixar de orgulhar-me deste momento que o Brasil presenciava.
Amanhã votarei em Walter Pinheiro (PT) e em sua vice-prefeita, Lídice da Mata (PSB), sobretudo por suas propostas de governo, mas também por que faço parte do grupo que não quer ver ACM Neto no poder. O “menino”, o “grampinho” tem a idéia, dentre outras, de reduzir de dezoito para dez o número das Secretarias Municipais, inclusive com a extinção da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. "Né brinquedo, não!"
Walter Pinheiro e Lídice da Mata, nomes já consolidados na esquerda baiana, dispensam maiores apresentações. Portanto, quero, explicitamente, referendar a candidatura de Creuza Maria de Oliveira, 44, (PT) e compartilhar um pouco da sua luta.
Creuza é sindicalista, fundou o Sindicato das Domésticas, preside a Federação Nacional dos Trabalhadores Domésticos, é membro do Conselho Nacional da Promoção da Igualdade.
Sua história é semelhante ao do nosso presidente Lula. Aos dez anos, egressa do sertão e da roça, trabalha como doméstica em Santo Amaro, engrossando a fila do trabalho infantil. Sua primeira remuneração foi aos 15 anos. E, somente aos 20 anos consegue ter sua carteira de trabalho assinada, quando entra na luta pelos direitos dos trabalhadores domésticos.
Gostaria de ressaltar, que ainda hoje, 70% dos 500 mil dos domésticos não são respeitados em seus direitos de trabalhadores.
Vou votar em Creuza (13.612) por ela ser mulher, por ser negra, por sua trajetória política e de vida.
Vou votar em Pinheiro (13) por sua coerência e honestidade. Deputado Nota Dez.
Vou votar no Partido dos Trabalhadores por minha convicção partidária.
Vou votar contra o neo-carlismo (perdoe, meu deus, novamente escrever a má palavra. Cruz-credo, vai de retro!) que ACM Neto representa.
E vou ter esperança que um dia, dos quase 15.000.000 de baianos que somos, teremos um candidato ou uma candidata negra a prefeitura, ao governo estadual da Bahia, afinal, não somos a Roma Negra?
E, sem querer ofender a ninguém, relembro a música de Ivan Lins e Vitor Martins, interpretado pelo genial Tim Maia. “Avisa ao formigueiro, vem aí tamanduá”, embora que o termo "Nego" não esteja lá muito bem colocado, mas "formigueiro" e "tamanduá" estão perfeitos no contexto.
Avisa ao formigueiro,
vem aí tamanduá
Vem aí tamanduá
Pra começo de conversa,
tão com grana e pouca pressa
Nego quebra a dentadura mas não larga a rapadura
Nego mama e se arruma, se vicia e se acostuma
E hoje em dia está difícil de acabar com esse ofício...
Avisa ao forigueiro
Vem aí tamanduá
Repinique e xique-xique,
tanta coisa com repique
Pra entupir nossos ouvidos,
pra cobrir nossos gemidos
Quando acabar o batuque aparece outro truque
Aparece outro milagre do jeito que a gente sabe...
Avisa ao formigueiro
Vem aí tamanduá
Tanto furo, tanto rombo não se tapa com biombo
Não se esconde o diabo deixando de fora o rabo
E pros "home" não tá difícil de arrumar outro disfarce
De arrumar tanto remendo se tá todo mundo vendo...
Avisa ao formigueiro
Vem aí tamanduá
http://www.youtube.com/watch?v=2yyFCM0_Z2I

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O "Olhar" agora é B´andlha

O blog Olhar Sociológico, cujo link encontrava-se aqui no Olho da Rua, agora é B´andlha.
Revisto e repaginado, Patrício Langa convida-nos a "conferir maior liberdade a IDEIA, a opinião e ao engano!".
O autor do interessante blog é um sociólogo moçambicano que vive no trânsito entre Moçambique e África do Sul e, portanto, fala a partir destas duas realidades.
Convido vocês a visitarem o B´andlha(http://circulodesociologia.blogspot.com), menos por Patrício ser uma pessoa a qual admiro e estimo muito, e mais pela postura crítica ao debate de idéias que ele nos sugere.
Um beijão, Pat.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Outubro matizado


Setembro passou incólume por entre os meus dedos.
Nem crianças nas ruas em desfile pelas flores.
Nem caruru de Cosme e Damião.
Nem música inspiradora.
Nem livro que não fosse normativo e obrigatório
Nem vento na cara em estrada verde.
Nem mergulho no mar do pôr-do-sol do Porto da Barra.
Nenhuma palavra sequer sobre a exultação primaveril que eu tanto esperei!
Apenas a violeta da sala, que eu chamo carinhosamente de recoleta e que ouve as minhas mais secretas confissões, floriu como nunca antes e da orquídea, que já estava chateando-me de tão seca, brotou um talinho verde.
Tirante estas felizes recompensas da vida eu fui, completamente, engolida pelos dias e pelas noites, mesmo que com um sempre desejo do “... quando entrar setembro...” dentro de mim.
Agora chega o outubro. Um mês intermédio. Um mês sem homenagens por chegada de nova estação. Um mês daqueles feitos para ir se vivendo...
E com ele um gosto de ressaca, embora eu não tenha bebido de alegria a primavera.
Entrego, portanto, meu coração para que o outubro me alcance, como um contínuo do ingênuo colorido setembrino.
Afinal de contas, recoleta ainda vinga no canto da minha sala e compartilha comigo a suas duas últimas flores lilases. Embora que estas duas flores lilases interpelem mais do que matizem
.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Gracias a la vida (2)

Um dos motivos pelo qual aderi às manifestações públicas do dia 28 de setembro - Dia latino-americano pela descriminalizaçao do aborto - foi a história real , que anteriormente partilhei aqui , sobre a dor feminina de quem gera um filho que não viverá.
Resolvi acompanhar o caso mais de perto.
Um estudo do Programa de Apoio a Projetos em Saúde Reprodutiva e Sexualidade, ligado ao CEBRAP apontou os seguintes dados.
Entre 2001 e 2006, a Justiça autorizou o aborto em 54% dos casos, negou-o em 35% e no restante percentual os fetos morreram antes da decisão judicial.
O estudo mapeou casos na Justiça de 2a. Instância, no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça.
Gostaria de enfatizar, também, que os casos de anencefalia representam quase 20% do total de pedidos de aborto que tramitam na Justiça.
Os casos que foram negados tiveram as questões religiosas como argumento principal.
Pergunto-me se, nestes casos, o argumento médico não seria mais coerente e menos irônico para o julgamento, visto que o Conselho Regional de Medicina considera o anencéfalo como natimorto e sem condições de vida extra-uterina.
O direito ao aborto, assim, deveria ser líquido e certo.
Além do mais, o Estado Brasileiro é laico e as mulheres que têm este tipo de gestação não podem ficar sujeitas posicionamentos de juizes e ministros, os quais julgam de forma pessoal e de acordo com as suas próprias convicções religiosas.
Em audiências públicas já realizadas pelo STF, a Igreja Universal do Reino de Deus posicionou-se a favor do aborto, neste tipo de situação, e a Igreja Católica, contra.
É urgente que a Justiça, refiro-me ao STF, crie, ao menos, uma jurisprudência (será este o termo jurídico correto, Drs. Advogados?) sobre o assunto, que ainda é extremamente controverso.
No caso que me comoveu mais de perto, soube, hoje, que a Justiça Baiana concedeu o direito ao aborto.
Que a dor lhe seja leve! (parafraseando)
É o meu desejo a esta desconhecida mulher.