segunda-feira, 2 de março de 2009

Mas... e se o carnaval durasse o ano inteiro?

Foto extraída daqui
“Tô me guardando para quando o carnaval chegar”. “Pra tudo se acabar na quarta-feira.” “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”. “Ah! Que bom você chegou, bem vindo a Salvador, coração do Brasil”. “Vai buscar Dalila, vai buscar Dalila, ligeiro”.
Marchinhas, sambas, pagodes, axé-music... Decibéis para os ouvidos a qualquer hora.
Luzes, megavolts, claridade para os olhos de dia e de noite.
Cores, abadás, fantasias, shortinhos para as mulheres, camisetas para os homens.
Rebolados e remelexos, paqueras, flertes, gandaia, sorrisos, água mineral e cerveja.
Daqui e de lá, somamos quase quatro milhões de pessoas pelas ruas de Salvador, abrigados por uma superestrutura (já não sei se é com hífen ou sem, por conta do acordo ortográfico) de segurança, saúde e transporte de massa.
Quatro milhões de pessoas que intercambiam redes sociais, de linguagem, de sotaques e de suores, sob o mesmo céu e sob o mesmo som.
Explicar o carnaval de Salvador é tentar o inexplicável, pelo menos para mim. É a festa do exagero, dos números exacerbados. Tudo se eleva a décima potência, quer seja na estrutura da folia, quer seja em nossos poros de subjetividade.
Acredito que é proibido pensar nestes dias de festa, ainda que seja pensar sobre a própria festa, pois é o prazer, a liberdade de exprimir e de sentir que está em vaporização.
É o tempo do estar à toa!
Considero que é uma experiência pela qual todo ser humano que se preze tem de passar, pelo menos uma vez em sua vida. Entretanto, é preciso ter coragem, preparo físico e coração aberto para enfrentar a multidão, caso não queira ouvir o refrão da Timbalada: “ se não agüenta, pra que veio?”.
Como diz meu amigo Beto, a vida se divide em AC e DC. Antes do carnaval e depois do carnaval.
Voltamos à “aparente normalidade”, sem megavolts, megahertz, megadecibéis. Recompomos-nos e aqui estamos nós, bem vindos a nossas rotinas.
Numa volta pelo centro de Salvador, logo após a folia, senti um quê de falsidade exalando da Cidade. Ela estava recomposta e, rapidamente, vestida de paletó e gravata, de lojas abertas, de ruas limpas, de congestionamentos, de sons urbanos, apenas.
A instantânea capacidade de auto-regeneração me soou muito falsa.
Entrei no prédio em que moro, fechei o portão da garagem, desliguei o motor do carro. Subi para o meu apartamento e apelei para Chico Buarque. Cantei.
“A minha gente sofrida despediu-se da dor, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor. A marcha alegre se espalhou pela avenida e insistiu...Minha cidade toda se enfeitou, pra ver a banda passar...Mas, para o meu desencanto o que era doce acabou. Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou. E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor, depois da banda passar, cantando coisas de amor.”
Então, estou no DC. Estou de volta! Estou na área! Estou por aqui...depois da banda passar!
Mas...e se o carnaval fosse o ano inteiro?!

9 comentários:

nadja disse...

amiga, imagineee, ainda bem que não é! Contente com sua volta, bem contente!

Sueli Borges disse...

Naná, já era hora de eu voltar à vida!
Eu que fico contente de saber que voce passa por aqui.
Muito obrigada!
Agora é "pau-na-máquina", né?
Força aí também.
Ah...que dia as Yo Yo vão se encontrar?
bj grande, amiga!

Katia Costa-Santos disse...

Sueli,
minha falecida mãe, que era louca por carnaval, me chamaa de 'preta do Paraguay" por eu nunca ter sido dada a tal festa. Eu gosto. Mas nao vou lá, nao tenho pique. Fui muito e ate desfilei enquanto ela tinha o poder de me obrigar, mas a partir dos 16 bati pé e nunca mais fui.
Em 96 fui conhecer o carnaval de SSA, com direito a ver a saida do Ilê e tudo. Amei! Depois, com o dia ja clareando, vi o desfile tb. Fiz quase tudo que se tem pra fazer no carna daí. Mas, qdo chegou no encontro dos bloco na praça Castro Alves, eu lembrei quem eu era, a preta do Paraguay: seitei-me onde deu pra sentar, mandei meus amigos seguirem e só sai do meu canto qdo todos os blocos ja tinham se retirado. Em suma, ja tive minha cota de carnaval soteropolitano e digo a todos que nunca foram/viram que eles nao podem morrer sem faze-lo e que vao amar.
Se nao forem carnavalesco paraguaios, claro :))

bj

Sueli Borges disse...

webneguinha do paraguai, tenha certeza de que valeu a pena voce ter conhecido algo que já não mais existe, e é uma pena: o encontro dos trios na Praça Castro Alves.
Pode dizer que, ao presenciar este momento, voce foi uma preta autêntica, e não do paraguai.rsss
eu ainda tenho que ir ao carná de rua daí, do Rio de Janeiro.
bjs

Katia Costa-Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Katia Costa-Santos disse...

Ah, essa eu tenho que te contar, sobre o carna de rua do Rio.
Nesse tempo todo fora do Rio uma das poucas coisas que me dava vontade de fazer no carna à distancia era acompanhar o bola [preta]. Este ano eu estava realmente considerando o desfrute mas aí eu estava na praia um dia antes do derradeiro dia e literalmente TODO MUNDO a minha volta comentava sobre o bola no dia seguinte... tinha um pessoal de Macaé dizendo que viriam onibus e mais onibus de la pra acompanhar o Bola.
Preciso te dizer o resultado?
Nao, ne?!
Eu la num fui :(

Sueli Borges disse...

rsssssssss...provaste que és preta do paraguai, mesmo!!!
se "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu", que diremos de quem não vai atrás do Bola Preta?
bjs

Anônimo disse...

heheheh....não vale copiar os pensamentos alheios, ó vc é vidente, macumbeira ou outra actividade afim?...rss
Essa do carnaval é 1000...e não contando com os 45 milhões de reais, dinheiro do povão, com q o digníssimo Governador da Bahia presenteou...o carnaval da bahia. Presenteou quem???...psiuuu...rs
E os hospitais? os centros de saúde? as escolas públicas?...as ruas e estradas? e por aí vai....
Abraço bem forte Pardinha. Estou contigo!

Sueli Borges disse...

oi Pardinho, que bom ler um comentário seu aqui.
Sabemos quem fica sorrindo á toa depois da folia momesca: os empresários dos grandes blocos de trio elétrico.
se vivessemos numa terra decente, o governo teria dinheiro para todos os investimentos de saúde, educação, término do metrô e lazer (incluindo aí o carnaval). Infelizmente, não é assim e as verbas são desviadas para os mais díspares fins.
Mas, não esqueça, já vem o São João por aí, rsssss.
Outro abraço bem forte em você. Também estou contigo!