quinta-feira, 4 de setembro de 2008

“Eu não sou cachorro, não!” (Mas, já fui...um dia!)


Há muitas interpretações para o que se chama brega. A mais consensual é de que é um gênero musical popular, cuja denominação surgiu de modo pejorativo, relacionado ao que não era de bom tom e clean, consumido, sobretudo, pelas classes mais baixas da população.
Gosto da lenda de que a palavra brega é conseqüência do nome da Rua Manuel da Nóbrega, uma rua cheia de prostíbulos, em Salvador-BA. Dizem que a placa da Rua foi ficando desgastada e a sílaba NO, de Nóbrega, apagou-se. Então, as pessoas referiam-se às músicas que tocavam lá NO BREGA.
Foram várias as fases que o gênero passou, desde o seu surgimento, por volta de 1960, até a sua assimilação pela indústria fonográfica, nos anos 80, pela classe média e por estudos de intelectuais. Lembram-se que a Globo lançava em suas novelas as famosas duplas de sertanejo-brega?
Mas, para além da sua associação à cafonice e às barangas, a algo fora do estilo de quem tem um dito gosto refinado, o fato é que os cantores bregas sempre entupiram as casas de shows do Brasil inteiro.
Eu mesma admito nunca ter gostado muito das músicas bregas, por causa das suas melodias marcadas, harmonias simples, letras por demais românticas e melosas. Tudo muito tábua rasa, eu dizia. D-i-z-i-a...por que a gente se acha muita coisa, até passar por outras tantas, que nos transformam, a nós mesmos e a tudo que é sentimento que consideramos legítimo dentro da gente.
Pois é! Meu ouvido metido a ouvir o erudito da sonata Pathetique, de Beethoven, e seus similares, bem como os clássicos da mpb, rolou por terra, bonitinho, com direito aquele famigerado “ta vendo aí, nega!?”, quando da minha primeira dor-de-cotovelo há muitos e muitos anos atrás. Época em que tomar cuba-libre era algo elegante e da moda (aliás, por que ninguém pede mais num barzinho: uma cuba-libre, por favor?). Esta era a mesma época dos LP s-bolachões.
Então, fui redimida, resgatada, renovada, ressuscitada por um: “Eu não sou cachorro, não, pra viver tão humilhado. Eu não sou cachorro, não, pra viver tão desprezado”. Isso aí, repetido e repetido e tri-repetido...a gente termina tendo coragem de partir para outra, fazer andar a fila, botar um batom na boca ou fazer algo que mude o astral, ora bolas!
Recentemente, assisti ao documentário “Waldick, sempre no meu coração”, com direção assinada por Patrícia Pillar, sobre a vida do baiano Waldick Soriano, um dos reis do brega. Um filme sobre a história de mais um nordestino que foi tentar a vida em Sampa, e que vingou! Um homem que dizia as coisas do coração. Waldick, o Durango Kid sertanejo, faleceu ontem, aos 75 anos. Deixa uma obra de quase 700 composições.
Assim, de NO BREGA, à cuba-libre e à fossa de amor, eu lembrei que, um dia, eu já fui cachorro, sim!
Ai, ai...



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