quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Outubro matizado


Setembro passou incólume por entre os meus dedos.
Nem crianças nas ruas em desfile pelas flores.
Nem caruru de Cosme e Damião.
Nem música inspiradora.
Nem livro que não fosse normativo e obrigatório
Nem vento na cara em estrada verde.
Nem mergulho no mar do pôr-do-sol do Porto da Barra.
Nenhuma palavra sequer sobre a exultação primaveril que eu tanto esperei!
Apenas a violeta da sala, que eu chamo carinhosamente de recoleta e que ouve as minhas mais secretas confissões, floriu como nunca antes e da orquídea, que já estava chateando-me de tão seca, brotou um talinho verde.
Tirante estas felizes recompensas da vida eu fui, completamente, engolida pelos dias e pelas noites, mesmo que com um sempre desejo do “... quando entrar setembro...” dentro de mim.
Agora chega o outubro. Um mês intermédio. Um mês sem homenagens por chegada de nova estação. Um mês daqueles feitos para ir se vivendo...
E com ele um gosto de ressaca, embora eu não tenha bebido de alegria a primavera.
Entrego, portanto, meu coração para que o outubro me alcance, como um contínuo do ingênuo colorido setembrino.
Afinal de contas, recoleta ainda vinga no canto da minha sala e compartilha comigo a suas duas últimas flores lilases. Embora que estas duas flores lilases interpelem mais do que matizem
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5 comentários:

Anônimo disse...

Ola Sueli atraves do B'andlha descobri a entrada para o seu blogue com tom muito poetico, parabens leio e gosto muito de poesia e filosofia e pela cura passagem por aqui encontros sinais vivos disto, perdoa-me se me tiver equivocado.Parabens!Aurelio Miambo

Anônimo disse...

Olá Aurelio,
para mim é um grande prazer receber um comentário de um leitor do B´andlha. Vejo que, pelo seu sobrenome, voce deve ser moçambicano. Povo bonito, simpático,gentil, educado,trabalhador e, como nada é perfeito,um povo meio conservador, se confrontado ao brasileiro (ou nós é que somos exageradamente libertinos?).
Como disse no título deste blog, meu intuito é o de pontuar etnografias cotidianas, minhas próprias e das ruas. Aí, quando vejo já estou falando em tom conotativo-poético. Talvez seja meu "defeito" de fabricação.
Obrigada pela visita, volte quando desejar e comente sempre que puder
Um abraço.

Anônimo disse...

Ola Sueli de facto sou mocambicano quanto ao que dizes de nos hummmm 'prefiro nao comentar'.Brincadeira vou comentar sim.conservadores(?) nao sei talvez diferentes dos Brasileiros se bem que tudo que sei dos Brasileiros 'e da TV e ainda assim fico com algumas duvidas que esteja a ver 'o Brasil' nessas imagens, ainda assim da para perceber que as 'vossas' lagrimas caem facilmente sera esta uma caracteristica vossa? como ves tenho medo dos adjectivos mas etnograficamente ha factos interessantismos de um e doutro pais que dariam espaco para longuissimas discussoes.Em todo caso muito obrigado pelos qualitificativos dos mocambicanos.
Quanto ao teu defeito de fabricacao podes crer que esse 'e um daqueles que nao deves te preocupar em concertar sabe porque? porque as palavras sao como passaros o lugar deles 'e tudo menos a gaiola, portanto nao aprisiona as tuas palavras deixa-as voar como a tua alma apetece...
Abracos, Aurelio Miambo

Sueli Borges disse...

Olá Aurélio,

realmente as adjetivações são perigosas e enganadoras.
E por falar em engano, tem razão sobre o seu comentário sobre a realidade do Brasil, via televisão. Normalmente, prevalece a ótica estereotipada da ideologia dominante. A programação menos comprometida, da TVE, um canal público, parece que não chega até voces.
No pouquíssimo tempo que passei por aí, me divertia muito, dizendo que ira montar uma banquinha, no meio da Baixa, com a tabuleta: "Quer saber o final das novelas braisleiras? Pergunte-me como."
Se a situação complicar por aqui, talvez sofistique mais esta idéia (risos).
Um abraço,

Anônimo disse...

Olha a TVE nao chega, pelo menos ate mim, tenho visto Globo e Record mas felizmente sou daqueles que nao me deixo programar pela TV principalmente pelas Telenovelas sobretudo porque desconfio muito da realidade que mostram. Se assim 'e vou continuar entao a espreitar os factos etnograficos do seu blogue quem sabe por esta via nao encontre por entre as tuas poesias outros 'Brasilis' ainda por escrever, cantar, fotografar enfim relevantes para gente de espirito aberto a novos(?) horizontes culturais.
Abracos ate breve, sempre eu Aurelio Miambo