segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Léo Kreti do Brasil, "querida", nem me chame para dançar, que eu não vou, não"!

Ontem foi um dia nervoso. Meu pensamento dividiu-se entre muitas coisas. O dia de sol de domingo e a praia que eu não iria, o almoço de minha mãe que eu não provaria, a pilha de livros e as leituras atrasadas, os capítulos que tenho para começar e que não escrevo, a culpa por esquecer o aniversário de uma das minhas grandes amigas, a vontade de rever amigos que nunca mais encontrei, a geladeira vazia mandando que eu fosse fazer o meu mercado. Eu entendo e me desculpo por todas estas coisas não feitas.
O que não entendo são as coisas da política. E o dia foi nervoso por causa das coisas da política, também. Além do meu pensamento divido entre os meus assuntos de foro íntimo e o resultado das eleições, os meus dois olhos também giravam em direções contrárias. Um, aplicado no trabalho com as eleições e o outro no que acontecia nas ruas. Ou seja, alta pressão nas artérias.
Nervos à flor da pele na apuração das urnas e nos números embolados entre os candidatos Walter Pinheiro (PT), João Henrique (PMDB) e ACM Neto (DEM). O empate técnico entre os 30,97% de João Henrique e os 30,06% de Walter Pinheiro me aliviaram bastante, o que não somente me leva a sonhar com a vitória de Pinheiro no segundo turno eleitoral, mas que, sobretudo, consolida a 3ª perda sucessiva dos carlistas na Bahia (2004, 2006,2008).
Em suas análises, os cientistas políticos afirmam que esta eleição não foi considerada a partir das performances individuais dos candidatos, mas sim através do peso dos partidos políticos aos quais os candidatos estavam vinculados. Posso, assim, entender a vitória do PT e do PMDB, bases aliadas do governo Lula e a derrota do democrata ACM Neto.
Mas, estas análises devem ser aprofundadas pelos especialistas. Eu, confesso que gostei mesmo foi ver foi o abatimento de ACM Neto!
O que eu não consegui entender, em meus sentidos nervosos, foi Leo Kreti do Brasil, a “danada”, a “cretina”, como a quarta vereadora mais votada em Salvador, com quase 12.000 votos e minha candidata Creuza com pouco mais de 4.000 votos.
Leo Kreti é dançarina de pagode e tornou-se a primeira vereadora transexual eleita. Diz em entrevista que não escolheu, mas foi escolhida pelo partido DEM (o partido de ACM Neto), numa de suas convenções, para integrar o seu quadro de candidatos a vereadores. Por que seria, heim? As mesmas práticas populistas do “antigo” carlismo.
Não sou puritana e não é o fato de Leo Kreti ser transexual, nem mesmo por ela dançar lascivamente o seu pagode. Nem quero valorar as questões estética e comercial das danças e letras dos pagodes. O problemático é que Leo Kreti não tem história, nem luta política e não é referendada nem mesmo pelo Grupo Gay da Bahia, ONG que desenvolve importante papel na defesa dos direitos dos homossexuais.
Como explicar, então, a expressividade dos 12.000 votos?
Talvez eu esteja sendo até mesmo ingênua em querer um pouco de coerência no processo eleitoral e talvez eu devesse concordar com o antropólogo Roberto Albergaria, quando ele afirma: “Léozinha é emblemática no atual espírito do tempo: alegorizando um tipo de política e de sexo (a tal da desconstrução dos gêneros e das orientações sexuais heteronormais do passado) que não passam de uma alegre esculhambação!”.
É isso aí! Alegoria política e esculhambação!
Saindo um pouco da minha passionalidade por ver a derrota de minha candidata, a batalhadora companheira Creuza, e a vitória esplendorosa de Leo Kreti do Brasil, também gostaria de entender como nove vereadores não tiveram um voto sequer. Z-e-r-o voto. Nem os deles próprios. É um bom motivo para dar gargalhada.
E, como uma boa gargalhada espanta qualquer negatividade, vou aproveitar que meus nervos voltaram à normalidade, que meu pensamento não está divido e que meus dois olhos fitam somente o mesmo plano, para fazer meu mercado, tirar do atraso a leitura e a escrita, ligar para os amigos, pedir desculpas pelos esquecimentos e avisar a minha mãe que no domingo que vem eu “tô colada” no feijão dela.
Muito melhor do que me meter a entender o que, definitivamente, não entendo né?
Leo Kreti do Brasil, “querida”, continuo não entendendo os reveses da política, mas, nem me chame para dançar, que eu não vou, não!

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